História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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tiro de mosquetão do acampamento, onde o rio faz uma curva e o canal era junto à margem em que se achava o inimigo, este empregou toda a sua força, colocada atrás de uma trincheira, dando tão violenta descarga com mosquetes sobre o yacht, que ninguém podia mais ficar junto do pequeno canhão de bronze (este já dera antes uns tiros com metralha). Os nossos, entretanto, respondiam-lhe com os mosquetes; mas, perseverando o inimigo nas fortes descargas de mosquetes e ferindo a todos que estavam sentados a remar, tiveram finalmente os nossos que abandonar o yacht e salvar-se para o outro lado; porque, apesar do yacht estar forrado de couros, não lhes podia isso aproveitar, pois o inimigo, achando-se situado em uma ribanceira alta e entrincheirada, podia atirar-lhes de cima, e atingir a todos, tanto que o próprio capitão recebeu três ferimentos mortais.A gente, que nesse interior foi mandada do acampamento, ao ouvirem lá os tiros, chegando e vendo que nada havia que fazer contra o inimigo situado em posição tão vantajosa, a não ser perder sem proveito alguns mortos e feridos na sua tropa, voltou ao acampamento, e assim o pequeno yacht e os botes ficaram nas mãos do inimigo, sendo um deles incendiado.Os nossos, tomando então em consideração a escassez de viveres, que estavam prestes a esgotar-se, e compreendendo que a força do inimigo crescia diariamente, assim como que o conde de Bagnuolo marchava para lá com 700 homens, não acharam prudente demorar-se por mais tempo tão profundamente no território do inimigo com tão pequena força e tão pouca munição, mas sim voltar o mais depressa possível para os quartéis, a aguardar melhor ocasião, quando recebessem da República um maior número de soldados, e assim voltaram em boa ordem no dia 8, tornando cada um à sua guarnição. Enquanto isto se passava próximo ao Arraial, sucedeu que no dia 6 desse mês os nossos no Recife viram uma vela no mar, a qual supuseram ser um dos nossos yachts que eram esperados de Itamaracá; mas, reparando melhor e notando especialmente que mudava de rumo, foi mandado o yacht Exter a reconhecê-la; como o yacht se demorasse um tanto, o commandeur Smient e o capitão Duynkercker, metendo-se num bote, remaram logo para ele e, lá chegando, viram que era um navio português; e, apesar de nada mais levarem consigo do que três ou quatro pistolas e as suas espadas, fizeram-no, entretanto, render-se com altas ameaças, de sorte que o capturaram antes do Exter poder lá chegar.Esse navio vinha de Viana, Portugal, e estava carregado com fardos de panos, especialmente de tecidos de linho, que vieram muito a propósito; soube-se, pela gente de bordo, que em Portugal não mostravam pressa era mandar um reforço considerável ao Brasil.Entre as pessoas aprisionadas, estavam três moças parentas de Roque de Barros, e outros principais habitantes do país, pelo que o conde de Bagnuolo escreveu uma carta para resgatá-los; mas como cerca de dois ou três prisioneiros, que foram apanhados no Exter pelo inimigo, foram mandados aos nossos, cada um com um vestuário novo, foram-lhes entregues as três moças sem resgate algum.