História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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para que os engenhos não moam, e até hoje não se tem moído, e assim pouco açúcar será fabricado neste verão, porque, chegando Janeiro, temos inverno, e nessa estação nada se fará. Que o Senhor nos ajude, pois não temos nem chefes num conselheiros que falem a favor do povo.O inimigo marchou para Porto Calvo e incendiou em caminho o engenho de Manoel Ramalho, assim como dias antes fizera aos de Domingo de Oliveira e de Miguel d'Alvares: fazem o dano que desejam e apanham o gado que podem, por isso é que se diz que eles têm falta de viveres.Que Deus abra os olhos do rei, para que nos mande uma esquadra, porque, quanto mais socorro sem dinheiro, tanto maior, a ruína deste país.Outra carta de 20 de Outubro. - Cansei-me de procurar lugar por onde embarcar duas caixas de açúcar, e não pude encontrar, porque um ladrão, que governa este país, não consente que os patrões de navios levem as próprias mercadorias; carrega os navios por sua conta, do irmão e também do rei. Tem levado esta terra a uma tal situação, que não se pode descrever; procede muito mais duramente do que alguns tiranos, e sem aparência de cristão, não pensando noutra coisa, senão como ha de roubar e tiranizar o povo. Apesar de termos combatido nessa guerra, ha dois anos, em vez de recompensar-nos, oprime-nos com um grande imposto, que o povo não queria consentir. Ele, vendo que assim não ia, mandou chamar todos os capitães ao seu quartel, para pedir que o ajudassem a manter o Arraial; a mínima dádiva que tirou do povo foi de uma caixa de açúcar de cada um negociante; de vários, quatro ou cinco caixas foram para o cofre.Depois de receber esse rateio, lançou impostos tão pesados, como nunca foram vistos, até as crianças devem pagar todos os meses 50 réis; e, desde que vierem reforços, a terra é levada à ruína.O inimigo tem assaltado vários lugares; tomou em Igarassú mais de 80 mil ducados, tanto em jóias como em ouro; depois, atacou Serinhaém, que também saqueou completamente; incendiou em outros lugares muitas casas e levou consigo muitos bois.Houve aqui uma grande enchente, que causou um prejuízo acima de 200 mil ducados.Outra carta de 12 de Novembro, do Cabo de Santo Agostinho. - As notícias do país tornam-se todos os dias piores; o inimigo fez a maior expedição que jamais ousou fazer, pois foi até à cidade de Igarassú e saqueou-a, matou muitos e dirigiu-se parti onde bem quis. E, agora, em Porto Calvo, incendiaram quatro ou cinco engenhos, sem sofrer resistência em parte alguma. Si assim faz, quando ainda não recebeu reforços, que é que não fará, quando estiver mais forte? Todos aqui estão admirados de que o rei não se incomode com perder este país, que tem muito valor, como todo o mundo sabe.FIM DO NONO LIVRO

SUMÁRIO DO LIVRO DÉCIMOO commandeur Schuppe volta da expedição. Vigilância da costa. É capturado um navio car regado de açúcar. Chega o sr. Gijsselinghs. O major Schuppe é mandado novamente numa expedição. É capturada uma caravela carregada de vinho e azeite. A expedição a Rio Formoso. Três navios carregados de açúcar são incendiados. Um engenho de açúcar é queimado em Camaragibe. Expedição de Itamaracá a Maria Farinha. Expedição a Rio Formoso; conquistam um forte inimigo destrói e incendeia quatro dos seus navios carregados de açúcar, assim como um armazém do mesmo produto; os nossos tomam em seguida uma bateria do inimigo no rio Santo Antônio; destroem seis navios do inimigo; obtêm 104 caixas de açúcar e algum vinho; passam por Camaragibe e outros lugares e destroem ainda dois navios. O inimigo instala uma bateria em Itamaracá, para atirar contra o nosso forte, ao qual, porém, não causa dano. Albuquerque distribui uma circular, e os nossos fazem o mesmo. O coronel Wardenburgh repousa, para partir do Brasil. É capturado um navio com duzentas pipas de vinho. A expedição a Goiana; incendeiam três engenhos de açúcar e muitas casas. É capturado um navio com 120 caixas de açúcar. Laurens van Rembach é nomeado coronel e Sigismundo Schuppen tenente-coronel. Encaixada dos Tapuias. Assalto a Afogados; tomada do entrincheiramento; montam um forte. Expedição ao Arraial; tomam um reduto e matam a todos; dão pela falta do maior Padburgh, e o coronel é ferido mortalmente; deixam atrás 130 homens. A nossa gente bate toda a Várzea de cima a baixo e carrega açúcar dali. Expedição do tenente-coronel Schuppe a Moribeca: incendeiam o povoado, excetuando a igreja, e depois um engenho. Expedição por mar. O próprio inimigo incendeia em Rio Formoso um navio e dois armazéns com açúcar, e os nossos os engenhos; retiram de Porto Francês um navio carregado com açúcar. Licht-hart entra em Porto Calvo, incendeia ali um navio e um armazém com açúcar. O commandeur Jan Mast incendeia um navio e algumas casas. São trazidas três presas com açúcar. Faz-se um acordo com o inimigo quanto à concessão de quartel. Sigismundo van Schuppe é nomeado coronel e Balthazar Bijma tenente-coronel. Trazem uma presa com vinho. Conquista do forte e da ilha de Itamaracá e outras expedições e feitos na vizinhança; montam um reduto no canal do norte de Itamaracá. Os portugueses abandonam em vários pontos a costa do mar. O povo de Goiana em desordem. Expedição a Goiana: incendeiam alguns engenhos e regressam a Itamaracá. E' capturado um navio com 220 pipas de vinho. O inimigo abandona as casas e as trincheiras mais próximas. Incêndio de algumas casas e engenhos. Uma grande enchente. A expedição dos nossos ao Arraial, sem produzir vantagem alguma. Sai uma força, que incendeia um povoado ao norte do rio Doce. A expedição do tenente-coronel Bijma a Moruver, por terra; e, depois, pela costa a Itamaracá. Escaramuça com o inimigo. A expedição do coronel Schuppe ao rio Jangada. Dois navios do inimigo são lançados pelos nossos contra a praia, sendo tomado um