História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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Neste mesmo ano, foi despachado novamente, o capitão Cornelis Cornelisz. Jol com o yacht Otter. Partiu de Texel no dia 8 de Outubro: no dia 22, chegou perto das ilhas Canárias, no último do mês abeirou-se do cabo de Barbas e no dia 2 de Novembro estava junto ao cabo Blanco. De bote, dirigiram-se à terra nesse último, encontrando por toda parte pedras brancas, e a terra árida; ha aí uma Bahia tão larga, que se não pode ver de um lado ao outro, estendendo-se para o norte. Estiveram a umas três léguas para dentro, e tiveram cinco e seis braças e no mínimo quatro, algumas vezes terra dura e outras lamacenta.No dia 6, estavam junto à ilha de Maio; no dia 9, acima de Santiago; no dia 11, acima de S. Nicolau, chegando no dia seguinte a S. Vicente. Não podendo apanhar cabritos, nem abastecer-se de água, zarparam daí.No dia 23, pela manhã, avistaram uma vela, e dirigiram-se para ela; mas, como quase não havia vento, só chegaram lá ao meio dia, com o bote; estava carregada de vinho, vinha da Madeira e destinava-se à Paraíba. Levaram-na para Pernambuco, onde chegaram no dia 14 de Dezembro. Foi mandado no dia 18 cruzar ao sul. Extratos de algumas cartas, escritas pelo inimigo e interceptadas este ano. Diego Lopes Chaves, 25 de Julho de 1632, Bahia. - Desde que d. Antônio de Oquendo partiu desta Bahia, havendo quase 11 meses, o inimigo não se afastou mais da barra e da costa, pelo que não pode sair navio algum, e tudo está suspenso, não havendo despacho ou venda de açúcar, de cujo produto vivem os habitantes do Brasil. Garanto-vos que, se esse longo bloqueio durar, não se pode calcular e julgar o que será desta província, considerando quanto o inimigo é poderoso.Francisco Soares, 30 de Janeiro de 1632, Bahia, - Começando os dízimos dos despachos deste ano, ou da safra, no dia 1° de Agosto, da capitania da Bahia e das outras que dela dependem, Sergipe del Rei, Ilhéus e Porto Seguro, montam a 42.500 cruzados, dois terços cm dinheiro e um em mercadorias; o que vem a dar 2.500 cruzados menos do que o ano passado.Gaspar Demeres a N. S. do Real, em 22 de Outubro de 1632. - Ouvi dizer que ha carestia de cereais em Lisboa, estando o trigo a 400 réis; agora, comparai com a que existe aqui onde custa um pote de vinho duas moedas de oito; uma quarta de sal, quatro moedas de oito; um pote de óleo, quatro moedas de oito; e só a dinheiro e não por açúcar, pois ninguém o quer, valendo o branco 240 a 320 réis a arroba, o mascavado 140 réis, e, para trocar por outra mercadoria, não o querem; imaginai como podemos manter nossas casas, não tendo jóias que não estejam empenhadas ou vendidas. Lançam-nos impostos sobre impostos, e não se pode achar em parte alguma um lugar para embarcar quatro caixas de açúcar. Os que nos governam não têm maior desejo senão que essa guerra dure eternamente, escrevendo, ao rei que o inimigo está completamente desanimado, e que abandonará o Recife. Duarte de Albuquerque embarca em cada navio 20 ou 30 caixas de açúcar, de sorte que dizem que já mandou para Portugal mais de 100 mil ducados em açúcar. Deu ordem