Juntou-se a isso o terem os nossos dito e espalhado que estava para vir uma grande esquadra da Holanda; o que lhes produziu maior anciedade, não podendo imaginar, quando já não podiam resistir agora, o que deviam esperar depois. Isso desconcertou não somente a generalidade dos habitantes, mas também, aos chefes mais importantes dos portugueses, e, por isso, veio ter com os nossos, nesses meses de inverno, um tal Pedro Alvares, que fora muito tempo nosso prisioneiro e que estava, portanto, bem relacionado com a maioria dos oficiais. Este disse estar encarregado por Duarte de Albuquerque, senhor da Capitania de Pernambuco, e peio governador Mathias de Albuquerque, de entrar em negociações com os nossos, se estes também o desejassem, para que abandonassem a Capitania, recebendo alguns milhares de caixas de açúcar, ou como achassem melhor fazer por mutuo acordo. Alguns dos nossos eram de opinião que não convinha de todo repelir essa proposta, mas se devia demorar em dar uma decisão, pois entendiam que não lhes competia entrar em tais negociações e muito menos repeli-las. Outros meditaram muito sobre essa embaixada, e não podiam ver nela vantagem alguma, quer fosse verdadeira ou não. Porque Albuquerque devia compreender bem que, no caso de prosseguirmos na conquista da Capitania, ou se o rei a tomasse aos nossos por meio de uma poderosa esquadra, de uma fôrma ou de outra ficava perdida para ele, porque o rei a consideraria uma conquista, ou a guardaria, como indenização das despesas feitas durante a guerra e nunca a deixaria voltar ao proprietário. E esses julgaram, portanto, que bem podia ser sincera a oferta do açúcar, para verem-se livres de nos, antes que o rei fizesse maiores despesas. Mas essa proposta parecia dever ser atribuída mais a um ardil e ao desespero, para fazer-nos deter por essas negociações e evitar o perigo cm que agora se viam.Tanto mais quanto era justo que receassem que os habitantes, achando-se apertados por esses grandes prejuízos e com pouca ou nenhuma esperança de melhora, pudessem entrar em alguma negociação conosco, sem sua licença ou conhecimento; e que, por esse meio, os deteria, dando-lhes a entender que ia tratar ele mesmo com os nossos. Mas, sendo tudo bem ponderado pelos nossos, perceberam que só lhes poderia ser prejudicial que se murmurasse sobre esta oferta de açúcar, porque isso faria nascer uma grande desconfiança no espírito dos habitantes, que já começavam a inclinar-se para os nossos, que mais cedo ou mais tarde venderíamos os nossos direitos, e, portanto, não estariam bem protegidos conosco, pois seriam abandonados pelos nossos.Responderam, pois, a Pedro Alvares: - Que a intenção da Companhia não era outra senão guardar as conquistas e aumentá-las, no futuro, por todos os meios possíveis; e não seriam despedidos com açúcar; e que eles não tinham absolutamente ordem para isso. Mas, se ele enviado quisesse prestar-lhes o serviço de aconselhar Albuquerque a deixar-lhes o campo livre, e se conseguisse demovê-lo, muito poderia esperar da nossa parte.Com essa resposta, despacharam Alvares naquela ocasião; e os meses chuvosos se foram passando, sem mais ocorrência notável.Apenas no dia 24 de Maio chegaram da República o yacht Figer, da Zelândia, e o Oragnie-Boom, fretado pela Câmara de Mosa.
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional