Chegaram, pela meia-noite, perto do Cabo, e encontraram mais cinco navios que estavam cruzando na vizinhança.No dia seguinte, ao amanhecer, ancoraram lá; e, estando a gente preparada, o governador e o tenente-coronel, juntos com os conselheiros Carpentier e Walbeck, embarcaram nas chalupas, para dirigirem os outros; e, ao mesmo tempo, as tropas foram seguindo em direção à praia. Chegando perto, viram um recife correndo ao longo da costa, no qual havia grande arrebentação, de sorte que tiveram de parar e virar de rumo. Nessa ocasião, notaram uma enseada situada ao lado de uma pequena bateria, da qual o inimigo atirava com canhão; dirigiram-se para lá, e apareceram seis homens a cavalo. Aproximando-se mais, viram algumas trincheiras, mas não viram gente; entretanto, quando estavam de pé com os piques na mão, com intenção de saltarem em terra, o inimigo mostrou-se e deu fortes descargas de duas trincheiras, uma acima da outra, ao pé da praia.Como tivessem consigo apenas três botes (um com fuzileiros, outro com piques e no terceiro os ditos oficiais com as suas ordenanças), tiveram de retirar-se da praia, estando os outros botes ainda afastados a boa distancia. Pareceu, pela descarga, que devia haver atrás das trincheiras uns 300 homens, e viram mais gente num monte. O governador chamou imediatamente todos os capitães a bordo da sua chalupa, e, deliberando com eles sobre o estado da praça e a força do inimigo, julgaram que não era muito fácil desembarcar e expulsar o inimigo das suas trincheiras; e, considerando bem como era difícil tomá-las, pois a enseada era tão estreita, que não podiam acostar mais de cinco ou seis botes, e os soldados vindos nos outros botes teriam de passar por cima daqueles, concluíram que daí sobreviria facilmente alguma desordem. Também ponderaram que, tomadas as trincheiras (como seriam dominadas pelo monte de Nossa Senhora de Nazareth, que está situado perto), teriam de abandoná-las, logo que viesse maior força do inimigo, a não ser que tomassem e fortificassem o monte grande, o que achavam muito difícil, porque era de uma terra igual à do morro vermelho de Olinda. Além disso, as trincheiras deviam ser muito extensas, custariam muito e exigiriam maiores guarnições do que o Recife, e não teriam grande valor. Também consideraram que o monte era escavado, sem madeira e outros materiais necessários às fortificações; e especialmente que as suas tropas não seriam bastante fortes para resistir ao inimigo que viesse do Arraial a assaltá-las. Em suma, por essas e outras razões, não acharam prudente prosseguir nessa empresa e resolveram deixá-la nesse ponto e voltar ao Recife. Entretanto, como souberam, por um português, que no Rio Formoso estavam duas caravelas carregadas de açúcar e dois armazéns se achavam repletos com o mesmo gênero, decidiram, no dia 15, mandar para lá cinco ou seis navios, com quatro companhias sob o comando do major Schuppen, e regressaram no dia seguinte ao Recife. No dia 20, chegaram, de volta, ao Recife o Goude Leeuw, 't Wapen van Medenblick, de Pinas, de Brack, de Rave, Sandijck, den Boyer e duas chalupas, que estiveram com aquele major em Rio Formoso, e tomaram a carga das duas caravelas, montando ao todo cerca de 500 caixas de açúcar.
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional