nove navios e muitos outros menores e fragatas, destinados a diversos países. No primeiro dia, à tarde, separei-me da esquadra, com a minha fragata, com ordem do general Thomás de la Raspara, para ver se a esquadra partira de Vera-Cruz, e naveguei três dias com vento favorável até sábado 18, chegando até 22° de latitude e aí me mantive cruzando à espera de poder tomar outro rumo; no dia 24, sexta-feira, à tarde, com a conjunção lunar, sobreveio um tão forte furacão, que não esperávamos outra coisa senão a morte. A tempestade durou até domingo ao meio-dia, e por todo esse tempo não sabíamos por onde íamos; navegamos com a cevadeira, pois as outras velas tinham sido levadas pelo vento. Na segunda-feira, 27, achamo-nos a 21° de latitude e perto da costa de Campeche, dando graças a Deus, por nos ter livrado da horrível tempestade, e com muitos cuidados quanto à nossa esquadra. E como a tempestade nos houvesse levado as velas e o cordame, resolvemos ir para Campeche. Na terça-feira, 28, à tarde, avistamos uma embarcação, e, aproximando-nos, notamos que era um navio grande da esquadra; e reconhecemos, ao chegar perto dele, que era o S. Francisco de Natividad, capitão Francisco Nicolas, que estava muito destroçado, sem a vela grande, sem o castelo, e com uma cevadeira no mastro da mesena. Havendo-nos saudado, pediu que ficássemos junto dele e não o abandonássemos, até o dia seguinte pela manhã, porque calculava não estar longe dos baixios, chamados Las Arcas; perguntando-lhe nós pela esquadra, disse não saber o que era feito dela, pois a tinha perdido de vista durante a tempestade. Segunda-feira, às 8 horas da manhã, separei-me dele em grandes apuros e perigo, e segui o meu rumo. No dia seguinte, pela manhã, sobreveio-nos uni tão forte vento do norte, que partiu em pedaços o mastro grande e nos levou completamente o leme; tivemos a morte diante dos olhos, pois vogamos será leme e sem velas, à mercê do vento e sem saber onde estávamos. Prometemos muitas romarias, especialmente a uma imagem da Santa Virgem Maria, que certa mulher a bordo trazia consigo; colocamo-la na cana do leme, rogando-lhe que nos guiasse conforme a sua divina vontade. Aprouve ao bom Deus levar-nos, após três noites e três dias à costa de Tabasco, o que consideramos um grande milagre e demos graças à nossa celeste guia. Ancoramos, no dia 2 de Novembro, junto à costa; na véspera, viramos mais um navio da esquadra, também sem o mastro grande; não pudemos aproximar-nos dele, mas não era o Natividad, do qual nos apartáramos cinco dias antes. À noite, vimos na praia, a cerca de uma légua de distancia, muitas luzes, o que nos surpreendeu bastante; no dia seguinte, pela manhã muito cedo, fomos à terra, e a primeira coisa que se nos deparou foram caixas de anil e cochonilha. e fardos de seda e muitos cadáveres, pelo que verificamos que um navio da esquadra dera à costa. Percorremos a praia por duas léguas, e encontramos em uma choupana o capitão Balthasar de Amesquita, proprietário do navio naufragado, o Santo Antônio, o qual nos contou que o navio fizera tanta água, que teve de encalhá-lo; que salvara a maior parte da prata, tirara duas caixas e cinco ou seis caixotes com reales; que 22 homens morreram afogados, porque o navio se fez repentinamente em mil pedaços. Perguntando-lhe nós pela esquadra, disse-nos que, no dia da conjunção lunar, se separara da capitania
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional