História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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Elbert Smient, commandeur das chalupas, que fora mandado ao cabo Santo Agostinho para ver o que o inimigo fazia ali, voltou no dia 19 ao Recife e relatou ter visto cinco pequenos navios surtos no porto; que o fortim que o inimigo possuía ali não era de grande importância e que mais nada soubera sobre a esquadra espanhola. Mas no dia 21 chegaram os navios Oliphant e Groeninghen, trazendo notícias da batalha entre a nossa esquadra e a espanhola, dos desastres dos navios e da perda do general e de outros. O Conselho, havendo-se reunido e não sabendo o que devia fazer com os navios que ainda estavam no porto, convocou todos os capitães de navio à sua sessão e perguntou-lhes se não seria melhor para o serviço da Companhia irem com esses navios ao encontro do almirante Marten Thijsz, afim de que com esse novo reforço pudesse ele atacar novamente a esquadra espanhola. Ao que o chefe da equipagem e os capitães de navio responderam unanimemente: - que, soprando o vento agora de susueste e sul quarta de sueste e a corrente dirigindo-se fortemente para o norte, havia poucos meios de ganhar o sul; e julgavam mais seguro e mais prudente que os navios ficassem no porto e desembarcassem todos os doentes e feridos, recebendo novas guarnições e aprontando tudo para com a primeira mudança de vento aproarem para o sul e reunirem-se ao almirante e em tempo oportuno atacarem a esquadra espanhola. Os membros do Conselho Político, achando bem fundado este parecer, resolveram unanimemente executá-lo. Como nessa ocasião não havia uma autoridade superior no porto, resolveram investir no comando sobre os navios ao chefe da equipagem. Galeyn van Stapels, encarregando-o de antes de tudo, dirigir-se a bordo do navio mais conveniente, fazer tremular a bandeira no mastaréu de velacho e em seguida visitar todos os navios e ver qual a guarnição de que precisavam. À tarde chegou o navio Medenblick, o qual fora mandado adiante pelo almirante para cruzar entre a ilha de Santo Aleixo e o cabo de Santo Agostinho e espiar se a esquadra espanhola fora ali desembarcar alguma gente. Referiu que vira nesse mesmo dia, ao longo daquele cabo, 22 navios grandes, além de alguns menores, todos os quais tomaram o rumo oeste-sudoeste. Isso produziu novo alarma no Conselho, que convocou imediatamente todos os capitães de navio que estavam em terra e lhes pediu novamente o seu parecer. Eles declararam unanimemente que não podiam achar prudente com os nove navios (tantos eram os surtos no porto) irem procurar e expôr-se ao inimigo: deviam esperar que a nossa esquadra estivesse toda reunida, tanto mais quanto já se podia avistá-la do porto, apesar de estar ainda muito distante. Mas, no caso de o almirante não chegar no dia seguinte com os seus navios, então, desembarcados os doentes e sendo os navios providos de guarnições novas, opinavam que fossem ao encontro do almirante. Durante todo esse tempo os conselheiros eram de opinião que a esquadra espanhola daria desembarque, deixando alguma força ao sul do cabo de Santo Agostinho, e que ainda era tempo de dar-lhe combate. A nossa esquadra surgiu à tarde em frente à cidade de Olinda e no dia seguinte entrou no porto. O Conselho, nesse ínterim, estava sempre ocupado em deliberar sobre o que convinha fazer. Os capitães de navio tinham pedido na véspera 660 soldados e esperavam recebê-los a bordo à meia noite: o Governador não podia dar o seu assentimento a isso, sem se abandonar antes a cidade, o que o Conselho de Guerra não podia