tanto no mar como em terra, narraremos em seguida o que as varias esquadras realizaram no mar no corrente ano.No dia 22 de Março, como já ficou dito, o vice-almirante Joost van Trappen, apelidado Banckert, partiu de Pernambuco com os navios sob o seu comando, tendo recebido ordem de navegar para a ilha de Sta Helena e estacionar algum tempo ali, a fim de esperara chegada das caravelas, que ao voltarem das índias Orientais para Portugal têm o habito de se ir refrescar naquela ilha, a ver se podia apoderar-se das mesmas e traze-las para a República. O vice-almirante esforçou-se para ganhar o mais possível o sul, afim do alcançar com maior facilidade a dita ilha. Tomou o rumo, a princípio, direito ao sul, descaindo pouco a pouco para leste, até que finalmente no dia 24 de Abril se achou na latitude de 27 graus o 22 minutos ao sul da linha equinocial e, calculando estar pouco mais ou menos na mesma longitude daquela ilha, navegou daí em diante na direção de leste quarta a nordeste com um vento de oeste e noroeste e, depois de entrar novamente no trópico com o vento sudeste, achou-se no dia 3 de Maio na latitude de 10 graus ao sul da linha, ali marcando a bússola 3 graus nordeste. No dia seguinte avistaram a ilha de S.ta Helena, calculando estar ainda a 10 léguas de distância, e ancoraram ás 5 horas da tarde a noroeste. Ela está situada segundo calcularam, a 16 graus ao sul da linha e 3 graus e 2 minutos de longitude leste. Depois de ancorados, o almirante e o conselho da esquadra proibiram que fosse alguém aos pomares colher frutos ou danificar as árvores e ao mesmo tempo mandaram alguns homens colher laranjas, limões e outros frutos e reuni-los a fim de os repartir igualmente por todos os navios. Chegando á terra, não encontraram fruto algum, mas viram um cabrito com as quatro pernas amarradas, que se achava junto a uma árvore e havia comido todas as plantas que pudera alcançar ao redor, pelo que supuseram haver gente na ilha ou ter estado recentemente, se bem que durante todo o tempo cm que lá se demoraram não tivessem visto ninguém. Estiveram fundeados em 80 braças d'água a um tiro de mosquete de terra, ficando alguns navios ainda mais perto. Apanharam diariamente muitos cabritos e porcos com algum trabalho, por causa dos altos montes e escarpados rochedos, mas apesar disso pelos seus diários fica provado que durante a sua estada mataram uns vinte e cinco mil cabritos e porcos.A ilha é alta, em parte bela e fértil, tem perdizes, pombos e faisões e nos rochedos uma enorme quantidade de gaivotas que não fogem das pessoas e podem ser mortos a pauladas, sendo os ovos gostosos e nutritivos. Tendo estacionado ali ate o último de Agosto sem ver navio algum, esgotado o prazo marcado para esperar e abastecidos de água, que corre da montanha até o mar, e de lenha, suspenderam ancora nesse mesmo dia e puzeram-se á vela com um vento sudeste fraco, tomando o rumo de noroeste. No dia seguinte tiveram um vento sul-sudeste. No dia 7, contrariamente ao calculo de bordo, foram dar direito sobre a ilha da Ascensão, a cerca de 7 graus e 14 minutos, tendo tomado a partir de Sta. Helena o rumo noroeste um terço ao norte. Navegaram a oeste da ilha e viram nesse lado uma praia de
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional