História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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encontrando em parte alguma, sendo, portanto, de supor que se perdeu. É quanto diz a carta.Quem refletir bem sobre os sucessos deste ano e sobre as despesas feitas durante o mesmo pelo rei da. Espanha, especialmente com a expedição de tão poderosa esquadra sob o comando de Dom Frederico de Toledo e o pouco realizado por essa e da mesma forma sobre os inconvenientes e danos causados pelo retardamento da esquadra espanhola, deve necessariamente compreender que foi por causa do terror das esquadras da Companhia das Índias Ocidentais que se conseguiu mais este ano do que em qualquer tempo. Os que sabem calcular quanto é necessário para equipar uma esquadra de 36 ou 40 mil homens, especialmente na Espanha, onde (como todos sabem) tudo é muito caro e onde não zelam tanto pelo bem publico como no nosso país - podem facilmente avaliar a despesa em muitos milhões. O mesquinho feito realizado nessas duas pobres ilhas não (em valor algum. Além disso essa esquadra teve de passar o inverno em Cartagena e gastar uma boa parte da praia do rei e dos particulares.Os navios espanhóis partiram dos portos, na maior parte, em tempo impróprio e alguns se perderam. A esquadra da Nova Espania teve de passar o Inverno, carregar e descarregar e calafetar de novo os navios em lugares onde ha bem poucos recursos. Finalmente a prata do rei. que lhe é tão necessária, assim como a dos particulares e as suas mercadorias, foram retardadas por muito tempo e, enquanto não chegam, quase todo o comércio se paralisa na Espanha. Tudo bem ponderado deixa ver claramente o mal que pode fazer uma companhia pequena e desprezada por muito tempo e o paraíso que causou a um dos maiores potentados da Cristandade, cousa que as potências inimigas da Espanha nunca puderam conseguir.Antes de encerrar este livro e conquanto já tenhamos falado da calamidade que sobreveio á cidade do México, daremos aqui uma sucinta descrição que encontramos em uma carta escrita por um tal Barnabé Cabo ao Padre Hernando de Leon.A cidade do México (diz ele) está situada em um vale, circundado de montanhas muito elevadas e as águas, que de lá descem, não tem desvio ou sabida alguma. Essas montanhas têm de circunferência umas 70 léguas e dão ao vale uma forma oval. Este tem umas 46 léguas de comprimento e 12 de largura e é na maior parte guarnecido de lagos ou mares. Devia ser uma das mais belas e ferieis regiões das índias. Só o lago do Medico é natural, ao passo que os outros foram sendo feitos artificialmente, encontrando-se ali muitas represas e diques, que, tanto os índios, como os espanhóis, construíram para deter e desviar os rios que deságuam naquele lago, de maneira que ele não cresça tanto e não cubra toda a cidade. A elevação das águas por ocasião desta enchente alcançou 46 léguas ao redor. No lago de Mexicalcingo, que está ao sul do precedente e tem umas 15 léguas de circunferência, as águas subiram mais de uma braça c meia do que no do México. Os outros três ou quatro lagos que estão ao norte do Mexico têm três ou quatro léguas de circunferência e suas águas estão mais elevadas do que as de