História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636. Vol 33

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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No dia 8 foi capturada pelo bote do Almiranta uma pequena barca de transporto (que navegava pela costa, de um porto para outro) carregada de farinha, duas caixas de açúcar, três ditas de tabaco e 10 sacos de algodão. Souberam pelos prisioneiros que no dia 15 do mês passado haviam saído da Baia um galeão vindo de Goa e dois outros navios grandes, um de Portugal e o outro de Hamburgo e umas 20 barcas, tendo assim os nossos navios chegado muito tarde. Retiraram as fazendas da pequena barca e deixaram os Portugueses ir embora com ela.Não podiam navegar para o norte por causa dos ventos contrários e por 33 dias estiveram bordejando para alcançar o cabo do S.to Agostinho; contudo no dia 8 calculando estar na latitude do mesmo aproaram para a costa, na direção de oeste. Avistaram-no no dia seguinte e pouco depois o porto de Olinda de Pernambuco. Ali veio ter com os nossos um negro numa jangada, pelo qual souberam que três navios iam sair, mas vendo a nossa esquadra voltaram a ancorar dentro do recife. O almiranta viu portanto que não havia ali nada que fazer, pois, tendo sido descoberto pelo inimigo, os navios que se achavam dentro do porto não sairiam, e assim não achou conveniente perder mais tempo e partiu para as Antilhas.O vento e a corrente lhe foram tão favoráveis que no dia 1º de Abril chegou a avistar a ilha de Granada, o que estava completamente fora dos cálculos de todos os pilotos, que julgavam e afirmavam achar-se pelo menos a umas 100 léguas dali, pelo que se deve ter cautela naquela paragem. Fundearam no dia seguinte e lá encontraram o Deventer , o Edam e o Race , com os quais não haviam podido encontrar-se na costa do Brasil.Os índios dessa ilha obedecendo á sua má Índole haviam assassinado á traição, alguns dias antes, seis homens do navio Deventer por cujo motivo reinava grande agitação, sendo arriscado para os nossos o desembarque. Contudo, como a maior parte dos nossos navios tinham falta d'água e de lenha, mandaram á terra um contingente de soldados para defender contra os índios os carregadores d'água e os cortadores de lenha. O Pegasus , 't Hart e o Rave foram mandados para cruzar pela costa do continente na vizinhança de Monges e partiram no dia 7. O resto da esquadra fez-se á vela no dia seguinte e no dia 12 fundeou junto á ilha de S. Christovam e no dia 19 no porto de S. Francisco, na costa Ocidental da ilha de S. João de Porto Rico. O almiranta mandou alguma gente á terra para procurar refrescos, mas como não achassem laranjas partiram no dia 21 e navegaram pelo norte de Monico e ancoraram no dia 24 junto a Mona. Aí acharam tão pouco do que precisavam que os refrescos para os doentes começaram a esgotar-se. Os navios estando a cruzar perto dali, o Deventer capturou uma pequena barca, vinda de Porto Rico, na qual havia 36 pessoas e entre essas dois padres. Segundo os prisioneiros declararam havia na barca 4.000 reais de oito e alguma prata lavrada,mas, como os marinheiros a haviam saqueado desordenadamente, a princípio apareceu pouco, mas dando-se depois rigorosa busca foram encontrados 3.200 reais de oito e também alguma prata lavrada e algumas jóias de ouro. O Almiranta, julgando criteriosamente que este lugar podia ser ocupado por poucos navios