História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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capitão do Kater. A bordo do Leeuwinne foram os capitães acordes em que se abordasse a almiranta espanhola, sendo o Leeuwinne, o primeiro na investida, o Kater o segundo, e o Ter-Veere o terceiro, resolução que tomaram por lhes parecer que com tiros não renderiam os contrários. E como, em quanto estavam os capitães assim ocupados singraram os iates, vindo a ficar distanciados um grande espaço dos navios inimigos e a sota-vento deles, os da almiranta espanhola, entendendo que os nossos se achavam amedrontados, deram um tiro afastando-se, e içaram uma flâmula à verga da mezena. Fizeram os nossos toda a diligencia por se travarem outra vez, mas, em se aproximando, viram que não podiam alcançar a almiranta, como desejavam, porque era mais veleira que a vice-almiranta; e pois abordaram esta, o Leeuwinne por barlavento e os outros dois iates por sotavento. Vendo isto a almiranta espanhola, que se achava a barlavento, aproximou-se e abordou o Leeuwinne, que assim ficou entre os dois navios espanhóis, resultando daqui tão temeroso bombardeio que se não podia ver nem ouvir. Tanto que se dissipou um pouco a fumaça, vontade tiveram os nossos de entrar os navios contrários, mas não o puderam fazer, porque os navios espanhóis eram mais alterosos que os nossos, e de cima deles manejavam os inimigos furiosamente as suas lanças, com que tomou o caso um feio aspecto. Valeram-se porém os nossos de suas granadas, e as arrojaram entre os inimigos, que não mais souberam aonde se haviam de meter. Resultou atear-se o fogo na vice-almiranta espanhola, mas nem por isso deixaram os nossos de entrá-la; mataram a maior parte dos espanhóis, e trabalharam por abafar o fogo. Depois apartaram-se uns dos outros sempre combatendo. A almiranta espanhola fez por se escapar, e como os iates receberam tanto detrimento das balas do inimigo que não podiam mais lutar, não perseguiram o dito navio, e se contentaram os nossos com a vice-almiranta que lhes ficara nas mãos. Seguiram com ela para o canal de Bahama: na costa da Florida tiraram dela algumas caixas de anil, e mandaram para Havana na fragata os espanhóis que restavam. O navio tomado era um dos que vinham de Honduras; trazia o riquíssimo carregamento de mil quatrocentas e quatro caixas de anil de Guatemala, quatro mil duzentos e oitenta couros, e trinta e dois vasos com bálsamo. A 5 de Setembro recolheram-se os nossos à Republica com este esbulho.O capitão do iate Bruyn-Visch, que a 24 ficara no cabo Corrientes, mandou a chalupa à ilha de Pinos. Voltou esta na entrada do mês de Julho, trazendo um barco tomado nos Cayos, o qual continha oitenta e dois couros curtidos, e cento e noventa e quatro não curtidos, e seis caixas de estanho com tabaco Menoc. A 4 do mesmo mês seguiu o Bruyn-Visch para as Tortugas, que só a 22 foram vistas, supondo os nossos a principio que eram velas, por causa das arvores, que ali há, mui distanciadas, e por assim dizer rasas com o mar. Observaram que demoram estas pequenas ilhas na altura de 24° 28'. Ao outro dia a calmaria fez derivar o iate até as águas dos Martires, onde o abordou uma canoa com selvagens. Eram homens de estatura elevada e bem proporcionados de membros: traziam as vergonhas cobertas com uma