História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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prudente melhorar para dentro dele, pois não conheciam bem aquelas paragens, tornaram a sair. Ao outro dia chegaram à ilha Aruba, mas não lhes pareceu acertado desembarcarem por verem em terra alguns cavalheiros.A 4 encontraram os iates zelandezes (de que acima falamos), os quais estavam cruzando nas paragens do cabo de Coquibocoa, e os deixando ali seguiram para o cabo de la Vela, isto por haverem combinado os capitães dos iates Kater e Bruyn-Visch com os dos iates zelandezes que estes, segundo as suas instruções, ficassem entre os dois cabos de Coquibocoa e de la Vela, ao passo que aqueles iriam cruzar entre o cabo de la Vela e Santa Martha, devendo juntarem-se todos a 2 ou 3 de Junho neste ultimo, e caso não se encontrassem, se passassem à ilha Vaca. Ao outro dia, tendo chegado o Kater e Bruyn-Visch junto do cabo de la Vela, prosseguiram em sua viagem ao longo da costa. Avistaram os nossos algumas sete velas pequenas, que lhes pareceu estarem ocupadas na pesca das pérolas; não puderam porém os iates chegar-se a elas assim por causa da grande baxia como por sobrevir a noite. A 7 foram diante da pequena cidade do Rio de la Hacha, situada à borda do mar, e defendida por um fortim; pode-se chegar tanto a ela que a alcance um tiro de colubrina, mas não em navios grossos. Os espanhóis dispararam cinco tiros contra os nossos, servindo-se sempre da mesma peça, o que deu a entender que não dispunham de outra. Encontramos notado nos papeis dos nossos que esta praça é aformoseada por muitas e bonitas casas e armazéns; que demora na praia dez ou doze léguas abaixo do cabo de la Vela; que, para não escorrê-la, se atenderá ao seguinte - partindo do dito cabo, e perlongando a costa, se irá ver na face da ponta um comoro de areia vermelha e assaz alto. Pode-se desembarcar comodamente da banda oriental desta praça por toda a extensão da baía, em uma praia rasa e arenosa, sem correr o perigo de levar os navios diante da cidade; pode-se igualmente sair em terra pela parte de oeste, e depois entrar na praça por trás sem receber dano do fortim. Outrora, quando florescia a pesca das pérolas, esta cidade tinha mais importância que ao presente, pois o numero das ostras de pérolas vai atualmente cm grande decrescimento, ou antes tem sido ela estragada pela muita ambição dos espanhóis. Bordejando para se remontarem ao cabo de la Vela, os iates chegaram a ele no dia 10 de Maio, e aí encontraram surto um pequeno navio espanhol abandonado dos seus tripulantes e quase cheio de água; carregara milho, e fora saqueado pelos Ingleses; os nossos ainda encontraram nele duas boas ancoras e pedaços de cera, que tomaram, e depois lhe puseram fogo. Falaram com os selvagens da terra, que se mostravam inimigos dos Espanhóis, indicaram aos nossos uma salina, em que havia sal mui branco, mas pouco consistente. Aqui se juntaram o Kater e Bruyn-Visch com os iates zelandezes. Estes haviam encontrado um navio português, procedente de S. Thomé. com duzentos e vinte cinco negros; mas, estando o navio de água aberta, e não sabendo os nossos que fazer dos negros, tomaram vinte e dois dos mais robustos e o mais que lhes podia servir, e largaram o barco com os