História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 119


escarpada; à ponta oessudoeste, chamada Negrilho, encontrou porto, em que se pode surgir abrigado dia brisa e dar querena a um navio. O capitão do Goode Sonne, Jan Jarpersz, de Laet, tendo investigado todos os recantos da ilha, encontrou à sombra de terra uma grande piragua, como chamam as pequenas embarcações dos índios, abandonada dos seus tripulantes, que haviam fugido: nela encontrou setenta e seis couros, cinqüenta pequenos vasos com sebo, e vinte porcos salgados. A 7 encontraram o capitão Banckert com a fusta, o qual como atrás se disse, foi expedido da frota na entrada de Abril. A 9 de Abril descaíram sobre a costa de S. Juan de Porto Rico na altura da ilha de Mona. Ao romper do dia 10 avistaram quatro velas, a que logo deram caça. As ditas velas, dando fé dos nossos, viraram em roda; sem embargo disto, antes do meio-dia, os nossos acercaram-se delas, e entraram a atirar contra o navio maior, vice-almiranta daquela flotilha, em cujo mastaréu de velacho estava arvorada a bandeira elo rei de Espanha. Mantinha-se a barlavento dos outros de sua companhia, com a vela grande desferrada. Duas ou três vezes prolongaram-se com a vice-almiranta, inimiga os nossos navios, atirando-lhe com os seus canhões e mosquetes, fogo por ela correspondido. Neste entretanto deixaram-se ficar atrás dois dos navios inimigos, o Tijger abordou um deles e o rendeu; dele retiraram vinte e três homens, que foram encerrados no paiol das amarras, e puseram-lhe guarnição de gente nossa, bem como o Nieuw-Nederlandt, junto dele para vigiá-lo. O Commandeur Banckert seguiu os outros, e acercou-se de um navio com quatorze peças, que ficara atrás; várias vezes tentou abordá-lo, mas não o conseguiu porque o navio inimigo se esquivava guinando. Este labutar o trouxe ocupado até à noite, perseguiu o navio espanhol até à costa, fazendo-lhe fogo sem cessar; por volta de meia-noite o abordou e rendeu, mas os espanhóis, com exceção de sete ou oito se puseram em salvo em terra. Esta caça fez o Commandeur aproximar-se tanto da costa, que teve de lançar ancora e rebocar ao mar o seu navio. O navio tomado que se havia aproximado mais da costa, encalhou, pendeu sobre o lado, e assim ficou. Isto passou-se obra de doze léguas acima de S. Domingo. A 11 os nossos viram o outro naviozinho espanhol surto à sombra, de terra: seguiu para lá o batel, os nossos não encontrando ninguém o trouxeram. Foram ter tambem dois bateis ao navio encalhado, e tornaram mui carregados de tabaco e couros; este mesmo dia ainda lá foram ter uma vez, e ao outro duas; e porque o dito naviozinho estava mui pendido com a popa contra a costa, não puderam tirar-lhe as peças, e resolveram pôr-lhe fogo. O Commandeur seguiu para Saona, onde chegou a 13, e encontrou o Nieuw-N ederlandt com a nova de haver soçobrado o navio rendido. Ao outro dia o Commandeur deu-se pressa em seguir para S. Domingo em procura do galeão, mas foi trabalho perdido, pelo que prosseguiu em sua viagem para Jamaica. Os navios espanhóis de que temos falado, eram os que estavam à carga, quando os nossos observaram o porto de S. Domingo, como atrás se disse; o maior era um galeão, que se escapou à força de velas, e como se soube pelos prisioneiros, estava carregado de vinte e quatro mil couros, muito gengibre e outros gêneros; do que encalhou pouca cousa se