História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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peçasinhas do iate o pudessem ofender. Nos bateis foi morto um homem e outro ferido gravemente. O general vendo que nenhuma vantagem levaria ao inimigo, deu um tiro de canhão, sinal para voltarem os bateis, e recolhida a bordo a sua gente, os navios levaram ancoras e partiram.Logo depois disto encontrou-se com o general o capitão Banckert, que fora mandado a uma excursão no iate West-cappel: topara um naviozinho espanhol com obra de mil arrobas de peixe salgado. Os navios foram surgir juntamente ao remate ocidental da ilha Cubagua. O general com alguns bateis bem tripulados, passou-se à terra, onde nada achou a não ser cabanas de pescadores, e nelas algum peixe, que levou consigo, depois de pôr fogo às cabanas. Os dois navios, que ele mandara rodear a ilha Margarita pelo norte, encontraram na costa setentrional bom ancoradouro em toda a parte, quer perto quer longe de terra, como se queira surgir; e indo para oeste, montada a ponta do norte, vêem-se mui belas baiazinhas de areia, onde ha pequenas cabanas de Índios. Há também em dita ilha uma grande enseada, que se estende quanto a vista pode alcançar, e a terra, que a circunda, é baixa; mas, passada esta enseada torna-se ela a fazer-se grossa. Da ponta do sul saí uma baixia, onde há somente ires ou quatro braças de água, e diante dela ha uma aldeia, cujas casas são feitas de terra. Tudo isto foi observado em dois ou três dias, bem como a disposição de toda a costa setentrional da ilha, depois do que tornaram estes navios a se juntar com a frota. Juntos todos os navios e bem observada a ilha de Cubagua, dela partiu a frota aos 4 dias de Março. O general deitou caminho por junto da ponta e assim por diante em demanda do porto de Muchina, que demora cinco ou seis léguas ao oeste de Cumana. A este porto deram os nossos o nome de Mauricio. A fusta, o Goude Sonne e um iate tiveram ordem de ir tomar na pequena salina vinte e cinco ou trinta lastos de sal, que o general soubera estarem na praia. O navio Leyden e o iate S. Domingo navegaram de longo da costa para dar uma vista ao castelo, que demora junto da salina grande da ponta de Araya, e observar se havia ali alguma cousa que fazer. Sendo chegados nas cercanias do castelo, este fez fogo contra os navios, mas não segundo o numero dos canhões que diziam haver nele, o que deu aos nossos a suspeita de não estar bem provido de pólvora. Estiveram também diante da pequena salina; passaram-se à terra um troço de soldados e marinheiros; encontraram uma porção de peixe seco, que levaram para os navios, além de vinte lastos de sal, que ali estava em monte. Neste entretanto o general, prosseguindo em sua viagem, caiu em calmaria, e em pessoa meteu-se em um batel, e foi reconhecer o porto, onde antes de anoitecer ainda entraram os navios. Achou o porto em seu interior tão largo e capaz, que bem podiam surgir dentro dele todos os navios da Holanda, e sem ancoras nem proizes, pois se pode entrar tanto por ele, que não se venha a ver o mar nem aparência dele. Sendo chegado ao lugar, onde tencionava surgir com os seus navios, avistou ao lado oposto um navio, que a chalupa e os bateis foram buscar: não havia nele senão cabos fixos e de laborar e duas colubrinas, não se encontraram vergas, nem velas, nem munição alguma de guerra. Ao