Fontes para História do Brasil Holandês. A Economia Açucareira.

Escrito por diversos autores e publicado por Cia. Editora de Pernambuco MEC/SPHAN/Fundação Pró-Memória.

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§ 21.° " O FORTE DO RIO GRANDE CHAMADO DOS TRÊS REIS MAGOS " Da cidade do Rio Grande ao forte chamado os Três Reis Magos há apenas a distância duma pequena meia milha, e esse forte é o melhor que existe em toda a costa do Brasil, pois é muito sólido e belo e está armado com 11 canhões de bronze, todos meios-canhões, muitas colubrinas e ainda 12 ou 13 canhões de ferro, estes porém imprestáveis; na entrada do mesmo forte há também 2 peças e daí chega-se ao paiol da pólvora; as muralhas podem ter de 9 a 10 palmos de espessura e são dobradas, tendo o intervalo cheio de barro; ordinariamente há poucos víveres no forte, porque entre esses portugueses não reina muita ordem; a guarnição consta habitualmente de 50 a 60 soldados pagos e com a maré cheia o forte fica todo cercado d"água, de modo que ninguém dele pode sair nem nele pode entrar. Junto ao mesmo forte, para o lado do norte, fica o rio chamado Rio Grande, um muito grande e belo lugar; por esse motivo e porque os franceses e ingleses ali aportavam freqüentemente com os seus navios, onde os reparavam e faziam provisão d"água, frutas, carnes e outros refrescos, mandou o rei construir aquele forte a fim de impedi-lo, porquanto também iam ali traficar com brasilienses e adquiriam muito pau-brasil, do qual agora já não há tanto, e ainda outras mercadorias. Quando ali há falta de sal, o capitão-mór do dito forte do Rio Grande manda uma ou duas barcas, de 45 a 50 toneladas, a um lugar 60 milhas mais para o norte, onde há grandes e extensas salinas que a natureza criou por si; ali podem carregar, segundo muitas vezes ouvi de barqueiros que dali vinham com carregamentos de sal, mais de 1.000 navios com sal, que é mais forte do que o espanhol e alvo como a neve. É um lugar deserto, em cujas imediações ninguém mora, aparecendo apenas ali alguns tigres com os quais é preciso ter cautela. Estas salinas estão rentes à praia e completamente cheias de sal; mas os navios que tiverem de ir ali, segundo penso, devem conservar-se um tanto ao largo, porquanto aquela costa é muito perigosa.