História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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Nota. Descrevi esta ave, seguindo um autor português. América descri. lib. XV, cap. 7. Deste tirou nosso autor essa descrição quase literalmente, mas omitiu declarar a cor das penas. O peito é de cor amarela o resto do corpo, preto; no entanto tive vários despojos desta ave, nos quais havia umas pequenas penas de cor vermelha viva. Tenho também um bico desta ave muito leve e de grande tamanho com uma elevação córnea na parte superior, na qual tem origem; esta elevação é oca e de cor encarnada como o é também o bico. Não posso, porém afirmar se veio do Brasil ou da Índia Oriental, nossos patrícios, que viveram no Brasil, não se recordam de aí terem visto destes. Os tucanos aí são numerosíssimos, principalmente no sul e no Rio de "Ienero" (?)..ANHINGA (termo dos indígenas tupinambás). Espécie elegante de mergulhão aquático. Seu corpo, com exceção do pescoço, tem o tamanho do pato doméstico europeu; o bico é reto, não grosso, muito agudo, tendo três dedos de comprimento. Pelo meio anterior do bico, em cima e em baixo, acha-se uma dupla série de agudíssimos pontinhos curvados para trás; a cabeça é pequena, um tanto longa semelhante à da serpente, do comprimento de um pouco mais de dedo e meio. Os olhos são pretos com uma íris áurea; o pescoço é tênue, redondo, do comprimento de um pé; o tronco, porém, é só de sete dedos. As pernas são curtas, sendo na parte superior do comprimento de dois dedos e coberta de penas e a inferior de dedo e meio apenas. São quatro os dedos desta ave, dos quais três são dirigidos para a frente, ligados entre si por membranas como o pato ou o corvo aquático; o quarto dedo mais curto estende-se para o lado inferior, ligado com os outros por uma membrana; as unhas são semilunares e agudíssimas.A cauda é larga, do comprimento de dez dedos, formada por doze penas; as asas terminam perto do meio da cauda. O bico é grisalho, e depois da sua origem, um pouco amarelo; a cabeça e o pescoço são cobertos de finas peninhas, causando ao tocar a sensação da seda. A cabeça e parte superior do pescoço é de cor grisalha tendente ao amarelo; na garganta e parte inferior do pescoço a cor é grisalha, como aquelas peles (chamam-se verhfelle) com que se fabricam os toucados de mulheres e aí se percebe uma sensação semelhante à de tal pele. O peito, baixo ventre e parte superior das pernas são cobertos de penas moles de cor argêntea; o início do dorso é coberto de penas fuscas, mas cada uma delas tem, no meio, uma mancha alongada amarelo pálida, de sorte que aparece cheia de pontos; o resto do dorso tem penas pretas. São longas as asas, mas o princípio delas é coberto de penas curtas, como no início do dorso; acompanha a parte média uma série de penas, isto é, de um lado brancas; de outro, pretas; as rêmiges, são pretas. A cauda consta de penas pretas lustrosas com a extremidade grisalha. As pernas e os pés são de uma cor amarela carregada grisalha. Estas aves são muito espertas para apanhar peixes, porquanto, contraindo primeiro o pescoço como as serpentes, lançam contra eles o bico e os agarram com as unhas. Comi a carne desta ave, mas não é muito melhor do que carne da gaivota.IPECATÍ APOA (termo indígena). Pata (em português). Para nós é o pato silvestre, do tamanho do ádem de oito ou nove meses de figura quase igual a de nossos patos. O ventre, parte inferior da cauda, todo o pescoço e cabeça tem penas brancas; o dorso até o pescoço as asas e alto da cabeça estão cobertos de penas pretas com mescla de verde como no pescoço de nossos ádens, mas no pescoço e ventre as penas pretas são sarapintadas de penas brancas. Entre os nossos ádens e esta ave há a diferença de que esta é maior; em segundo lugar, o bico é como dos ádens, mas é preto e adunco na extremidade. Em terceiro lugar, há nele uma crista carnosa, grossa larga e quase redonda, preta, marchetada de branco. A altura da crista é a mesma; entre a crista e o bico (isto é, na parte mais elevada do bico) há um orifício transversal do tamanho de um grão de ervilha, visível de ambos os lados, exercendo a função de ouvido. Em quarto lugar, a cor da perna e dos pés não é vermelha, mas cinzenta escuro. Tem