alto da cabeça, em sentido longitudinal, a pele de certo modo se divide, sendo de cor açafroada do lado esquerdo, abaixo dos olhos e de cor cerúlea, sobre os mesmos. Do lado direito da cabeça, em cima e debaixo dos olhos a cor açafroada e bem assim no alto nas demais partes, domina a cor açafroada um pouco alva. O bico é bem longo, adunco exteriormente agudo, e na sua metade a partir da cabeça, é coberto de uma pele cerúlea açafroada. No meio do bico, na parte superior, há um orifício nasal amplo situado transversalmente; a extremidade do bico privada de pele é branca. Os olhos elegantes, quase da cor do rubim, tem uma pupila redonda, preta; as pálpebras são açafroadas; a língua, em forma de quilha, é dotada de agudos dentinhos em derredor. Sua carne fede como a de um cadáver, porquanto se alimenta de carniça; voam em grandes bandos em Sergipe e no Rio S. Francisco, quando se mata um animal. É uma ave feia, magra, nunca saturada. Nota. Fr. Ximenes assim descreve esta ave: Ave chamada pelos mexicanos Tzopilotl,; por outras nações Aura. É do tamanho de uma águia medíocre ou do corvo, do qual constitui uma espécie; as unhas são curvas e pretas; as pernas pardas; o bico como do papagaio e disposto do mesmo modo; a frente parda e sem penas com cabelos encarapinhados e pretos semelhantes aos dos negros. Alimenta-se de carnes mortas e de estéreo humano; não se sabe onde fazem seus ninhos ou onde nascem seus filhotes, embora seja muito freqüente na Nova Espanha. Voa sempre muito alto e exala de si um vivo e horrível fedor semelhante ao dos corvos. Estas aves voam em bandos e posam nas árvores; em bandos devoram os cadáveres sem luta alguma e saciam-se de tal modo que quase não podem voar; nesta ocasião podem facilmente ser apanhadas. Quando, porém, vêm que alguma delas não pode mover-se, ajudam-na quanto podem e a levam para a água, porquanto molhadas recuperam as forças para voar. Dizem que as penas desta ave, reduzidas a cinzas têm o efeito de tirar os cabelos de maneira que não renascem mais, coisa que também se atribui ao estéreo das formigas e ao sangue dos morcegos. A pele meio queimada serve para curar feridas, quando lhes é aplicada e ao mesmo tempo se come sua carne; esta também serve para curar doenças venéreas; como afirmam muitos espanhóis que a comeram a conselho dos mexicanos e ficaram curados, depois de empregados em vão outros remédios. O coração seco ao calor do sol tem cheiro de musgo; o esterco seco e engolidos, no peso de uma drama, é útil para os melancólicos. Dizem os selvagens que, logo que põem os ovos, costumam circundar de pedrinhas o ninho. É mais verossímil, porém, que coloquem os filhotes debaixo da terra; que depois os tirem para apascentar e novamente os cubram de terra.TAMATIA (termo indígena). Ave do tamanho da cotovia ou pega. É toda pontuada e e marchetada de manchas como o tordo menor (em alemão vulgarmente se chama Ein Trostel). No ventre se acham penas brancas com manchas fuscas; debaixo da garganta, bem como ao redor do pescoço, domina o amarelo. O bico é longo, vermelho, um pouco fusco, na parte superior, a qual é um pouco mais longa que a inferior. Sobre as narinas encontram-se umas penugens, como pêlos, e nos pés há quatro dedos aduncos. Esta ave não tem cauda; a cabeça é grande demais em proporção ao tamanho do corpo e bem assim o bico.TAMATIA (termo indígena). Ave aquática, galinha talvez. Tem o bico como o gavião e iguala em tamanho ao yassaná-assú; anda com o dorso e o pescoço curvo. A cabeça é grande; os olhos, grandes e pretos sitos junto da origem do bico. Este mede dois dedos de comprimento e mais de um de largura, à semelhança do pato, mas agudo
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado