História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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brancas e do pescoço pendem umas penas um pouco mais longas. As asas são brancas; as rêmiges são constituídas por penas pretas, transparecendo no preto uma cor de rubim. Tira-se a pele desta ave e se come sua carne cozida; é pingue e seca, de bom sabor, principalmente se depois de cozida é frita na manteiga; eu a comi muitas vezes.MANUCODIATA, na verdade é acreditada um Rei. Tem a aparência de pomba, mas de fato é do tamanho da andorinha; a cabeça é pequena; os olhos, pequenos; o bico, reto, bem grosso e pontudo, do comprimento de um dedo e meio; o pescoço mede um dedo e o comprimento do corpo, desde o pescoço até à origem da cauda, é de três dedos e meio. As asas tem mais de sete dedos; a cauda é larga e do comprimento de seis dedos; as pernas são duas, medindo a parte inferior de cada uma, dois dedos de comprimento. Quatro são os dedos do pé, três para a frente, um para trás, como acontece comumente; o dedo médio dos anteriores é um pouco mais longo que os outros; o posterior também é bem longo; cada um deles é guarnecido de uma unha em forma de meia lua ou adunca, como a do abutre. As pernas e os pés são bem grossos e preparados para a rapina; as asas e a cauda tem penas largas e fortes, de um dedo de largura. O dorso, o baixo ventre, as asas e a cauda são de uma elegante cor parda; junto ao bico, na parte superior acham-se umas peninhas de natureza de uma seda fina, de cor verde-fusca; na parte inferior, junto ao bico, há umas semelhantes de cor preta. A parte superior do pescoço é de cor amarela ou áurea; a inferior é verde com áureo brilhante; o peito, é de cor parda carregada; debaixo das asas pelos lados, sitos entre as asas, e pelas pernas, acham-se muitas penas de comprimento de um pé mais ou menos, de uma elegante estrutura, as quais se prolongam sobre a cauda. Estas penas na sua origem, são de cor amarela ou áurea e depois são amareladas claras, sombreadas de pardo. Entre essas penas, se estendem como que dois fios, medindo cada qual mais de dois pés curvos na extremidade; de uma cor parda carregada. As pernas são fuscas com unhas brancas; o bico é de cor verde cerúlea, um pouco branca na ponta. Esta ê a ave chamada por outros, do Paraíso, da qual vi algumas espécies. CAPÍTULO VII Guirapunga (de um e outro sexo). Guiraquerea. Jacamaciri. Cariama. GUIRAPUNGA (termo indígena). Ave cuja voz se ouve ao longe; excede o tamanho do tordo e é quase do tamanho da pomba. Seu bico mede um dedo de comprimento e de largura; é pontudo na frente, sendo a parte superior um pouco mais elevada que a inferior; na parte inferior é curvo, preto, com narinas patentes. Tem ampla boca, que lhe pode abrir até os olhos, de sorte que a abertura da boca com o bico forma um triângulo. A língua é curta; os olhos, azulados escuros; debaixo da sua larga garganta e na parte inferior do pescoço, acham-se pendentes muitas partículas carnudas do comprimento de um dedo, de cor preta, com a figura de uma ponta de lança ou de uma correia de sapato. A cabeça é coberta de penas pardas carregadas; o pescoço, preto, ventre, dorso e parte superior das pernas são ornados de penas cinzentas-escuras, com as quais se acham misturadas (principalmente no dorso) umas quase pretas e ainda esverdeada, junto da cauda. As asas (que se terminam não muito longe