Encontra-se ainda uma outra espécie desta ave do tamanho, cor e conformação da coruja.* A boca, quando aberta, pode conter facilmente um punho humano.CAPÍTULO IV Guainunbi Suas várias espécies. G U A I N U M B I também chamado pelos indígenas Guinambi Aratica e Aratarataguacu e pelos portugueses Pegafrol pode ser chamado em nossa língua Bloemen-Specht. Aqui se encontram muitas espécies desta ave. Primeira espécie. O comprimento da avezinha, do início da cabeça onde se acha o bico ao nascer da cauda, é de dois dedos. O tamanho da cabeça com as penas iguala ao tamanho de uma medíocre cereja doce; o comprimento do pescoço é de três quartos de dedo; o de todo o tronco de um dedo e quarto. O tamanho de todo o corpo, com as penas, quase não chega a ter o tamanho de uma azeitona grande. O biquinho mede dedo e meio de comprimento, é arredondado, uniforme, tênue e muito pontudo, horizontal, mas um pouco inclinado para baixo, na sua extremidade; é de cor preta, exceto na parte inferior, junto da origem, onde é vermelho. A língua é bifurcada ou dividida em duas partes, muito tênue como um delgadíssimo fio de seda, branco, longo, de maneira que pode ser prolongada para fora do biquinho; os olhos são pretos e pequenos; as pernas e os pés curtos e pretos, possuindo cada um quatro dedos três dianteiros e um traseiro, guarnecidos de pequenas unhas pretas e agudíssimas. A cauda é horizontal, do comprimento de um dedo, constando no máximo, de quatro penas; as asas, do comprimento de dois dedos, chegam até à extremidade da cauda e são compostas de penas de um singular artifício. Do começo das asas até uma distância de três quartos de dedo, há uma dupla ordem de penas, sendo uma mais longa que a outra; estas penas se acham colocadas umas sobre as outras, como asas breves sobre as longas. Em seguida a estas penas, a das asas (em número de dez) são colocadas de sorte que a seguinte interior é mais longa que a precedente exterior, a assim a última interior, mais longa de todas põe termo à asa. Com estas asas estendidas pode esta ave voar muito tempo e permanecer como que suspensa causando estrépido como o besouro ou melhor gritando hur, hur, hur, como a roda dos tecelões em movimento. As penas das asas estendidas nos aparecem com as tênues e transparentes. A cor das penas desta avezinha, em toda a cabeça, parte superior do pescoço nos lados, em todo o dorso e princípio das asas, é de um admirável brilho que não pode ser bem representado pelo pintor, porquanto ao verde, como se encontra no pescoço dos pavões e das ádens, se ajunta uma mistura de áureo, ígneo e amarelo, donde resulta, ao influxo dos raios do sol, um esplendor admirável. Na garganta, parte inferior do pescoço, peito, parte inferior do ventre e partes superiores das pernas, as penas são brancas, com uma mescla de cores exímias pela parte inferior do pescoço; no ventre às penas brancas se acham sotopostas outras pretas. O início das asas, como disse, consta de uma cor admirável, o resto é de uma cor escura ou baia lustrosa; a cauda consta de penas de cor de aço pálido, azulado. Esta ave alimenta-se só de flores* e assim, sendo apanhada viva, não pode ser conservada, mas morre.* Encontra-se, em grande número, junto às flores de uma árvore, que floresce em janeiro e qualquer pode matar a tiro até sessenta, num só dia; são encontradas também em outras árvores. Em todo o decurso do ano aparecem pelos bosques e principalmente pelas manhãs fazem grande ruído. Não cantam, mas gritam Screp, Screp, Screp, com um só tom e de um modo contínuo, quase como os pardais. Movem as asas com muita rapidez no vôo, a ponto de parecerem quietas no ar. No vôo chupam as flores com o biquinho; fazem ninho do tamanho de um soldo holandês nos ramos das árvores. Põem ovos de uma casca alvíssima, (dois no mínimo) de figura oval, não maiores do que o grão de ervilha.
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado