A casca desta árvore socada e cozida dá um óleo eficacíssimo para curar feridas e úlceras velhas, nas pernas e outras partes; nasce esta árvore em lugares gramíneos, úmidos ou secos; floresce em dezembro. JACARANDA (termo indígena). Há duas espécies desta árvore; a madeira de uma é branca; a de outra é preta como o Pao Santo; tem bom cheiro e é dura; a branca é inodora. O Jacaranda de madeira branca dá folhas, em râmulos alternadamente opostos; estas folhas são também opostas; medem cerca de três dedos de comprido; não são dentadas; na frente, são lustrosas, verdes-carregadas; atrás, verdes-claras, não lustrosas, Floresce da seguinte maneira: em cada ramo, dirigindo-se para fora, brotam muitos raminhos, que possuem, por muitos dias, uns glóbulos unidos, como que formando cachos; esses glóbulos são do tamanho da cereja ou um pouco mais, externamente de cor olivácea-escura; quando se abrem, dividem-se em cinco folhas, que se inclinam para baixo, oferecendo à vista e ao tacto respectivamente a sensação de uma seda olivácea lustrosa. A estas folhas fica assentada a flor, formada por uma só folha amarela, arredondada, desdobrada de um lado; defronte se acham curvados para cima quatro estames brancos, de figura elíptica, de ápices lúteos; no meio deles se encontra um cornículo verde-claro. No meio da flor, se erguem muitos estames brancos com pontas lúteas, grandes como escovas feitas de cabelo; esta flor é de agradável odor; o fruto não é comestível, O Jacaranda de madeira preta se acha, na capitania de Todos-os-Santos, mas não encontrei declarado no autor em que cousa difere do precedente. IBIRABA (termo indígena). Existe o branco e o preto. A ibiraba branca é uma árvore que cresce com o formato da pereira, com a casca fusca, ramos dispostos sem ordem. Suas folhas são sólidas, verdes, colocadas alternadamente semelhantes às da pereira, fixadas a pedículos. Dá uma flor do tamanho da rosa, de agradabilíssimo aroma (quase excede o da rosa), composta de cinco folhas amarelas pálidas; no meio da flor, se encontra um corpo amarelo semilunar, enrolado como um caracol, do tamanho da castanha; em pouco tempo este corpo cai e é colhido, em grande quantidade, debaixo da árvore. Produz também um fruto, semelhante a um copo com opérculo chato (no centro é um pouco torneado); na circunferência do copo se acham externamente seis protuberâncias angulares. O tamanho do copo quase iguala o da castanha; o fruto a princípio verde torna-se fusco, quando amadurece; então se desprende o opérculo e cai a única castanha, que se acha dentro, tendo o tamanho da nossa avelã; o copo permanece na árvore, durante um certo tempo. Deste fruto fabrica-se uma tinta; floresce nos meses de outubro e novembro.A ibiraba negra, ou preta não vem descrita no autógrafo do autor. TUINAMTIIBA (termo indígena). Árvore de casca cinzenta madeira frágil, que cresce até atingir a amplidão da macieira silvestre; seus ramos avançados e confiados à terra geram novas árvores, por isso esta árvore é empregada pelos indígenas para a construção de cercas vivas.As árvores novas são armadas de espinhos agudos, no tronco e nos galhos; quando envelhecem, perdem os espinhos e se estendem com vários ramos; aquelas nunca florescem; estas sim; aquelas sempre têm folhas; estas não, mas somente flores, isto é, em dezembro e janeiro; depois das flores, que então caem, brotam as folhas. As folhas de uma e outra são arredondadas ou antes cordiformes, as de baixo são tomentosas; as de cima, glabras e mais claras; permanecem unidas três, como acontece com os feijões, num pedículo de cerca de meio pé de comprido; estes pedículos, por sua vez, se acham punidos em número de três, quatro ou cinco, formando uma fronde (toda a árvore é frondosa); também as flores e folhas constituem muitas frondes. A flor é do tamanho da de íris; consta de uma só folha, crenada, ereta; junto de seu lado interno juntamente com a túnica adjacente, se encontra um doce licor como na flor do paco, muito apreciado pelas formigas; aí também se acham, estames, em forma de quilha, que saem pelo lado; esta flor é da cor viva do mínio mas sem odor; os estames tendem para a cor escura. As árvores floridas podem ser vistas de longe, aparentando um pano da cor do mínio amplamente estendido. Caindo as flores depressa e em grande quantidade, vêm os frutos; isto é umas copiosas silíquas, fuscas, quando estão maduras; umas medem um, outras três, outras,
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado