História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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CAPÍTULO Três arbustos anônimos. Trematee. Outros três arbutos anônimos . ARBUSTO (o autor não indica o nome). De uma raiz de quatorze ou quinze dedos de comprimento, lenhosa, branca, dotada de muitos filamentos, procede um caule em forma de arbusto, de um verde claro, alcançando uma altura de dois ou três pés; o caule e os râmulos são guarnecidos de espinhos agudos. Numa série alternada, se encontram folhas em pedículos de dedo e meio de comprimento, tendo algumas, junto ao pedículo, uma ou outra pequena folha. Suas folhas são da figura da relha do arado, mas obtusas, verdes claras, moles, tenras e afiladas, aculeadas no sentido longitudinal da parte posterior do nervo.Na extremidade dos caules e dos ramos, bem como aqui e ali, junto dos râmulos, procede uma, duas, três ou quatro flósculos, de um verde que tende à cor lútea, formados de cinco folíolos havendo no meio cinco estamínulos eretos. A seguir vem o fruto do tamanho da nêspera (Mespilus), redondo, liso, de cor verde clara com estrias verdes carregadas no sentido longitudinal, quando amadurece, torna-se amarelo. Esse fruto consta de folículo e polpa, como nossas uvas crespas, de sabor ácido, agradável; serve para se comer e contêm sementes orbiculares, comprimidas, amareladas, semelhantes a lentilhas.Consulte-se Dodoneus acerca dos frutos etiópicos. Nota. Procuramos delinear a figura desta planta, por meio de plantas secas, conservadas por nosso autor, por isso não nos foi possível representar as flores ou os frutos. De uma semente enviada do Brasil, no ano CIC IC C XXXVIII, nasceu esta planta, no jardim botânico do nosso Brabant, a qual então mandei delinear por meio de um perito pintor e conservo a imagem. Era exatamente a mesma planta, que julgávamos uma espécie de Solanum espinhosa; floresceu e deu fruto, que correspondia perfeitamente à descrição do autor; não pode chegar a ficar maduro, porque o frio matou a planta. Se a cor das flores não fosse diferente, poderia parecer o arbusto da Nova Espanha Hintztomatzin, que Ximenes assim descreve: é um arbusto de raiz grossa e furculosa, da qual procedem troncos espinhosos, da altura de uma braça; neles se acham folhas, semelhantes de certo modo à Spinaulia, vilosas e esbranquiçadas na parte inferior. Produz esta planta uma flor purpúrea com alguns estames, dos quais nasce um fruto semelhante às cerejas brancas (Cerasus); a raiz é amarga, aguda, quente e seca em terceiro grau. Sua casca socada e tomada com água, na quantidade de meia onça, expele os humores; constitue também um admirável medicamento contra febre, dificuldade de respirar e hidropisia.ARBUSTO (O autor não cita o nome). Consta de um tronco branco, meduloso, e folhas acuminadas, largas, dentadas, hirsutas, verdes na parte inferior e pretas na frente. Produz ouriços ou glóbulos aculeados, do tamanho de nossas ervilhas maiores, fuscos, dispostos verticila-damente nos râmulos, em número de dez, doze, quinze mais ou menos. Esses glóbulos são péssimos para os viajantes, porque se acham, por toda a parte, junto dos caminhos e às centenas aderem aos cabelos e roupas; bem como às crinas e caudas dos cavalos.ARBUSTO (O autor não cita o nome). Tem acúleos opostos e em cada um se acham três pares de folhas opostas mutuamente, semelhante às folhas do buxo. Produz flósculos longos, de um purpúreo claro, formados de quatro pequenos folíolos curvados para baixo, brancos e com outros tantos pequenos estames. Dá umas bagas ovais (cada uma em seu pedículo), do tamanho das bagas do sabugueiro, de um purpúreo escuro, que produz uma tinta escura; cada uma contém dentro um pequeno caroço branco chato