História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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pois cinábrinas, finalmente, quando maduras, pretas, redondas, do tamanho das cerejas medíocres. Cada uma se insere em umbela por (ou no) seu próprio pedículo curto; dez ou doze desses pedículos se inserem num mais longo; as bagas são rugosas como cerejas secas; dentro contêm um ou dois seixos amarelos claros, nos quais se acha um núcleo duro, claro. Existe uma outra espécie melhor do que esta. Consulte-se Monard, cap.XXII. Nota. Fr. Ximenes. Os mexicanos denominam mecapatli a nobilíssima planta, chamada Sarcaparilla pelos espanhóis, da qual há várias espécies, que aqui descrevemos. A primeira nasce na Espanha, principalmente na região de "Hispal" (hoje Sevilha) nos campos e vales; segundo alguns botânicos referida a "Smilax áspera" que assim é descrita por Dioscórides: Esta se encontra, não longe do México, na aldeia de Santa Fé, junto à fonte cujas águas suavíssimas e salutares são levadas por aquedutos à cidade; também se encontra em Tzonpango e na província de Honduras, de onde principalmente é trazida para a Europa. De sua figura (fácies) não importa falar, porque Dioscórides a descreve exatamente; nem ainda de suas propriedades, porque se assemelham às outras espécies; Dioscórides nada diz sobre seu temperamento, nem sobre sua virtude de provocar suores e tirar as dores das juntas e outras partes e de curar outras enfermidades graves e quase incuráveis, mas só explica a força pela qual resiste aos venenos e por isso é classificada entre os antídotos. É esta planta uma espécie de salsaparrilha embora os espanhóis, que nunca vieram à América, não podem convencer-se disso; não é possível, porém, negá-lo, uma vez que se faça a comparação dela com as espécies do novo orbe, só havendo a diferença de que a americana não produz semente, mas não é coisa desusada desprezarem os homens as coisas conhecidas, admiro é exaltarem as que vem de longe. Esta planta é fria e seca, embora não lhe faltem partes quentes e delicadas, com que provoca os suores e corrobora o calor do ventre (") (embora outros o neguem); purifica os rins e os ureteres; cura doenças crônicas. Numerosas e variadas são as opiniões sobre o modo de empregá-la o que', seria longo demais apresentar; notificarei somente que, com um simples cozimento, serve para bebida ordinária, certamente rara é a casa, em que não se ache. Toma uma onça de salsaparrilha bem nova (facilmente se pode obtê-la) corta-a e pica-a miudamente, ferve-a em quatro azumbres (") (isto é, oito sextários) de água, até que a quarta parte se evapore; depois bebe o resto. Acerca do licor, que costumam preparar, são várias as opiniões; aconselharia no entanto, aos que devem usar a salsaparrilha na América, que se sirvam do suco extraído de raízes recentes (elas são encontradas em toda a parte) na quantidade de quatro onças cada vez; já observei os admiráveis efeitos, quer em doença venérea, quer em outras; julgo que não é possível encontrar remédio mais eficaz. Ex. Clus. ed. cap. XXII. O Dr. Monardes, na primeira parte de seu trabalho, descreve um xarope preparado da salsaparrilha e outros ingredientes, que eu verifiquei ser utilíssimo; é preparado da seguinte maneira: Duas onças de salsaparrilha bem socada; três quartos de onça de "Guajací"; trinta e seis onças de "Linipha"; ameixa passa (tirada os caroços desta última e. do penúltimo); meia onça de flores de boragem (Borago) igual quantidade de violetas; um punhado de cevada limpa e socada; estes ingredientes devem ser fervidos a fogo lento, em seis sextários de água até a evaporação de quatro sextários; depois se deve espremer e coar o líquido; adicione-se enfim, a dez onças deste cozimento uma onça de xarope de violeta. Deve-se tomar este preparado quente, pela manhã e à tarde, observada a ordem, que se costuma observar, em tais poções, se começar a enxugar o suor. Permite-se, no começo, o uso de frangos e observa-se a mesma ordem, que no emprego do guajacan; bebe-se água ou o cozimento acima descrito. Desta maneira cura-se o gálico e outras enfermidades, que soem ser curadas com o emprego do guajací ou quina. Prepara-se também um outro xarope da seguinte maneira: Cozinham-se oito onças de salsaparrilha socada e compacta em oito sextários de água até a evaporação de seis; aos dois restantes a juntam-se quatro libras de açúcar e prepara-se um xarope, como de costume. Tomam-se três onças de manhã e outras tantas de tarde; seja o jantar composto de alimento de bom suco; a ceia sóbria; a bebida de água simples de salsaparrilha. Faça-se uso desse xarope até que se acabe, não sendo proibido sair para tratar dos negócios; cura este xarope algumas das moléstias acima descritas, sem dificuldade.O mesmo Ximenes diz: à espécie de "Sarcaparilla", denominada Quauhmecatl, os habitantes de Yauguitlan dão o nome de Cocozcapatli ou cocoztic palancapatli e os "Mechoacani" Yzhuatzoz que é uma espécie de salsaparrilha peregrina com raízes surculosas, das quais procedem a caules volúveis com hórridos espinhosos e muitos renovos. Suas folhas são semelhantes ao manjericão, (Ocymum) acuminadas e encurtadas com certas lisuras (?) e nêrvulos, que se estendem no sen tido longitudinal; não produz semente; goza das mesmas propriedades que as demais. Encontra-se junto às bases do Vulcão, não longe da aldeia "Atlatlaluca" uma planta inteiramente semelhante, mas as raízes são tênues e as fibras finas. Alguns pensam que todas estas plantas se referem a espécies de quina, mas, como as raízes são muito diferentes, deve-se antes admitir

[página12]que são plantas "sui generis", embora se assemelhem na figura das folhas, volubilidade do caule e renovos. São frias e secas, embora não sejam todas adstringentes; são úteis contra as dores das juntas e quaisquer outras oriundas da doença venérea; serve também para provocar suores, curar úlceras antigas e enfermidades pertinazes e crônicas; é útil também contra os vícios dos nervos e muitas enfermidades como vulgarmente se conhece. O mesmo Ximenes: esta espécie, "Quautimecapatli" cujas raízes são transportadas à Espanha, produz folhas grandes, cordiformes, caules volúveis e espinhosos, raiz linhosa; não produz fruto. Possui muitos rebentos, que nascem de toda parte; encontra-se esta planta, nos campos de "Totopec e Miztitlan"; julga-se, porém, ótima a que nasce em Honduras, que principalmente é levada à Europa.CAPÍTULO VIII Camaru. Inimboy. Espécies de Altheia. Sempre-viva marinha baccifero. Icipo. Perexxil. CAMARU (termo indígena). Espécie de "Solanum vesicarium". Duma raiz pequena, branca, rodeada de muitos filamentos, nasce um caule, bem grosso, quadrangular, nodoso, verde, coberto de pêlos brancos, o qual se divide em muitos ramos também nodosos, que lançam râmulos, geralmente justapostos dois a dois.Dos nós, nascem duas ou três folhas, de um verde claro, moles, fixadas em longos pedículos; cordiformes, com dentes grossos, no bordo; semelhantes as nossas folhas de "solanum vesicarium".Junto à origem das folhas, no próprio pedículo, de uma técula redonda, procedem flores pequenas amarelas pálidas, constituídas por uma só parte, mas estendida em cinco ângulos, havendo, no interior delas, cinco manchas de um purpúreo escuro como unhas e cinco estames também purpúreos; algumas flores só têm quatro ângulos e outras tantas manchas.Essas flores, fechando-se apresentam a imagem perfeita de uma estrela quadrangular ou pentagonal. A seguir, vem o fruto amarelo pálido, do tamanho da cereja, incluso em folículo, como o fruto de nosso alquequenge, (Halicacabus), isto é, pentagonal, cônico, com os ângulos entrelaçados de linhas purpúreas. O pedículo do fruto não é tão longo, mas é purpúreo. O fruto serve para se comer e tem o sabor semelhante ao nosso alquequenge; a folha cozida serve para banhar as pernas. INIMBOY (termo indígena). Espinheiro que produz os "lobos equinóides", citado por Car. Clus. Cresce até à altura da roseira brava; o caule e os râmulos são cheios de espínulos de cor hepática; a madeira é medulosa como o sabugueiro. Em cada galho, se encontram muitos râmulos diretamente opostos; nos râmulos, as folhas se acham opostas em número de quatorze até vinte, em cada um; em cada par de folhas, há dois acúleos. As folhas são de cor verde alegre, lustrosas, cilíndricas, do comprimento de cerca de um dedo; produz umas flores de cor lútea, reunidas em forma de espiga. A seguir vêm lobos espinhosos, hirsutos, de cor hepática, quando maduros, achando-se em cada um dois glóbulos duríssimos, de côr cinzenta, glabros e lustrosos, que produzem um estrépido ao serem agitados; o núcleo interno é amarelo claro, de gosto amargo como o tremoço (Lupinus); o lobo quando maduro, se abre e derrama glóbulos.