História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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crescendo e tornando a crescer depois de cortada. Os indígenas a empregam, na construção das paredes das casas; costumam também cavá-la e enchê-la d'água para ser usado em viagens por lugares desertos e privados de água.UUBA (termo indígena), Nasthos (em grego), Arando Sagittaria (em latim). Cresce até à altura de vinte ou mais pés; caule reto, lenhoso e duro na parte inferior até uma altura de três ou quatro pés, e daí por diante esponjoso e liso; em baixo a cor é amarela clara; encima é verde. A grossura, na parte inferior, é de quatro ou cinco dedos; na superior, é de um dedo auricular. Na parte inferior, acham-se umas folhas quase convolutas, a superior reta e lisa; dela se fabricam setas; o caule tem às vezes um ou outro ramo. A uma altura de treze ou quatorze pés sobre a terra, num comprimento de cerca de três pés, é coberta de folhas arundináceas, estreitas, de quase seis pés de comprimento. Dois pés acima destas folhas, novamente esta planta é lisa e sem folhas.MEERU (assim chamada pelos indígenas). Cana indica. Car. Clus. (Rar. pl. Hist. lib. IV cap. 54). Cresce até uma altura de oito ou dez pés; tem o caule fistuloso (arundinoso), suculento, verde, da grossura de um dedo, sendo cercado a intervalos por folhas solitárias, de quatro ou cinco dedos e até de pé e meio de comprimento e dez ou onze dedos de largura; são semelhantes às folhas do Paço. Em cima, o caule tem três ou quatro ramos, que produzem muitas flores, constando de três folhas linguiformes, do comprimento de cerca de dois dedos, eretas, rodeadas de outras folhas acuminadas e convolutas. No centro, porém, há duas estreitas, um pouco retorcidas, em cujo meio novamente se acha uma folha, semelhante a uma lígula, possuindo do lado um estame fusco saliente. A flor é inodora, de cor do fogo; depois das flores vem o fruto, que é um corpo oblongo, redondo, dividido em três lojas (exedras) ouriçado, semelhante ao fruto de "Ricinus", de cor verde, em parte avermelhada; quando, porém, a semente está madura, por dentro tem cor escura. A parte interior se divide em três células, (lojas) tendo cada uma doze sementes (grana seminis), do tamanho da ervilha, redondas, lisas, pretas, duríssimas.Quebrados a martelo apresentam uma substância branca com uma cavidade semelhante a de um vidro de vinho, achando-se nessa cavidade um corpúsculo como o bicho do queijo, do qual procede a germinação; com esta semente fabricam-se contas de rosário. A raiz adquire a grossura de um homem; é longa, de um amarelo claro fulgente, possuindo escamas vermelhas, como as da cebola e suculentas; nos intervalos, de um e outro lado, saem umas túberas ou proeminências pontudas, das quais emanam novos caules, porque (razão porque) esta planta é perene (dura muito tempo).Nota. Esta planta, como bem observa Car. Clus., no lugar citado pelo autor, dificilmente resiste nosso inverno, mas com certa diligência pode viver na nossa Holanda. Vimos uma e outra espécie florescer e propagar-se, mas antes do primeiro frio é necessário transportá-la para a estufa subterrânea, porque não suporta bem o frio. Observa, porém, o doutíssimo e diligentíssimo