História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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para a outra frota), não podia sofrer em seu coração tornar-se a Republica com as mãos vazias; se deliberou pois a empregar todos os seus esforços por avançar para leste, e ir refrescar na costa da África, donde depois se passaria à do Brasil para andar às presas. Longa e mui penosa lhe saiu esta viagem; muitas vezes sentiu-se anojado e quase desanimado pelo rigor do tempo e lhe não terçarem os ventos que o fizeram descair até 40º à banda do norte e passar muitos perigos; enfim, depois de muito divagar, quando veio aos 2 dias de Novembro, houve vista da ilha do Corvo, e ao outro dia da ilha das Flores, com que ficaram mui admirados os pilotos, que pelos seus pontos se supunham alongados delas algumas cento e setenta léguas uns mais, outros menos. Ao seguinte dia passou a frota entre as ilhas do Pico e S. Jorge, e no outro dia foi na paragem da ilha Terceira. A 5 estava acercada do remate ocidental de S. Miguel, e ali se deteve alguns dias para ser despachado para a Republica o iate Arendt, em que viriam os couros e outras fazendas tomadas; este iate, achando-se prestes no dia 10, partiu de rota batida para o seu destino, e a 15 de Dezembro chegou a Zelândia. Trouxe à Republica quatro mil duzentos e trinta e oito couros, cento e duas caixas de estanho, dez caixas redondas, mil duzentas e oitenta e duas libras de salsaparrilha, e mais algumas jóias de ouro e prata lavrada. A 12 a frota foi ser-vida de um belo vento nornordeste, e a 16 de Novembro tornou a avistar Porto Santo e Madeira. Havia na frota muitos doentes por causa da longa e trabalhosa viagem, que tiveram; fazia-se pois necessário tomar um porto cm que a companhia refrescasse. Deram os nossos uma vista a Selvagem, e acharam que não a podiam tomar. A frota a 22 passou por Tenerife, e enfim foi ver terras da África ao norte de cabo Verde em altura de 15° 30'. Ao outro dia passou pelo cabo Verde, e sobre a tarde surgiu diante de Refrisco. Urgia que ali tocasse, pois havia um número tão crescido de doentes nos navios, que alguns mal podiam ser mareados; morreram também muitos homens. Neste lugar poucos refrescos se podiam obter, alguns animaizinhos e cousas semelhantes; assim o almirante, depois de prover-se de uma pouca de água, quando veio a 24, partiu para Serra Leoa, onde o encontraremos no começo do ano seguinte.[^nota-35] O ano passado a Companhia despachou pela Câmara de Amsterdam para as costas do Brasil o capitão Thomas Sickes com o navio Gulden Dolphijn, cento e trinta lastos, trinta colubrinas, e cem marinheiros, e o iate Bruyn-Visch, sessenta lastos, nove colubrinas, e quarenta marinheiros, capitão Joaquim Gijsen, que partiram do Texel aos 18 dias de Dezembro do ano passado. A 18 de Janeiro foi o Commandeur Thomas Sickes junto da ilha Lançarote, uma das Canárias, e ao outro dia junto da Grã-Canária. A 20 rendeu um naviozinho português chamado Nossa Senhora do Rosário, do porte de oitenta lastos, provido de seis colubrinas, o qual vinha de Port a Port em demanda de Tenerife com trinta homens e carga de arcos, aduelas, muitos víveres e algumas mercadorias. Como este navio durante quarenta e oito horas se havia batido com um turco nas paragens de Barles, abrira água tão grossa que, trabalhando duas bombas dia e noite, mal se podia manter boiante, e a