Este chegou a 224 com dois navios, Goede Fortuyn e Mauritius, e depois que vira e louvara a ordem, em que fora disposta a tropa, ofereceu-se com uma companhia, que trouxera, para marchar com o almirante Veron, e, sem que inveja houvesse, fazer o serviço da Companhia. Assim que, ficou assentado que ao outro dia se começasse a interpresa. Quatro navios, a saber, Haerlem, Sphera Mundi, Oragnie-Boom e Omlandia, tiveram ordem de ir surtir diante do castelo da Mina e perto dele, e os iates Oudevaer, t'Zee paerdt e Arnmuyden diante da aldeia, onde sabia-se haver uma bateria, para o efeito de fazerem dano ao inimigo e trazerem-no entretido, e assim poder a tropa caminhar sem impedimento algum. A chalupa grande, que levava água, pás, machados e outras cousas necessárias, teve ordem de navegar terra à terra, afim de que, se a tropa precisasse de alguma cousa, se pudesse prover nela comodamente.A 25 desembarcaram em Terra Pequena alguns mil e duzentos homens entre soldados e marinheiros, fora cento e cinqüenta negros que o general trouxera também. Caminharam até ao meio dia pouco mais ou menos, avizinhando-se do castelo da Mina até uma légua de distancia, e aqui descansaram duas horas, por estarem fatigados e pela muita calma que fazia. Depois tornaram a abalar, e aproximaram-se do castelo até ao alcance da artilharia dele; e sendo vistos do inimigo, atirou-lhes este quatro ou cinco tiros, que porém não fizeram estrago. Em vista disto os nossos acamparam em uma planície atrás de certo monte pequeno, perto do castelo, fazendo tenção de levantarem trincheiras durante a noite, e assim aproximarem-se do forte. Tanto que os nossos foram chegados, o almirante Andries Veron mandou alguns dos seus soldados mais ligeiros explorarem o campo, e o mesmo fez o general Arendt Jacobsz., que enviou a sua companhia ao lugar, onde suspeitava fizesse o inimigo alguma sortida, e pô-la a cargo do tenente Hans Philipsz Grijf. Mas, enquanto o almirante e o general e mais chefes subiam aquele montezinho para bem observar o castelo, os soldados, que estavam sequiosos e mui afrontados, em sua maior parte largaram as armas, e puseram-se uns a procurar água, outros a fumar, deitando-se no chão o geral deles, tão despreocupados e desassombrados, como se não se tivessem de guardar de inimigo algum, ou ninguém, tendo respeito às suas forças, os pudesse ofender; não tardou muito porém que saísse o caso mui diferente do que cuidavam. Tanto que os principiais oficiais chegaram ao alto daquele teso ou pequeno monte, os negros, que seriam em numero de duzentos deram sobre eles mui lestos e inopinadamente; querendo fugir ao perigo os ditos oficiais desceram a grão pressa para chamar os seus às armas e pô-los em ordem. Mas os soldados, como atrás se disse, andavam espalhados, e haviam deposto as armas: acudiram em tropel e mui desordenadamente em procura delas, e foram acometidos pelos negros, que, como homens bárbaros e furiosos que eram, fizeram neles grande matança. O almirante Veron e o capitão Surmondt, depois de se defenderem bravamente por muito tempo, foram talhados a golpes. O pasmo da nossa gente foi tamanho, a debandada tão geral, que o caso é quase inaudito, e para dizer a verdade, foi um notável
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional