História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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ele raras vezes montava a cavalo para andar visitando as obras, e não acudia com as necessárias medidas a outras cousas, que muito importavam e quando acertava de o fazer, não animava os soldados, antes os ofendia com juras e doestos, conquanto elesa andassem sobrecarregados de um continuo trabalho, coronel preferia freqüentar os lupanares; ou deixar-se ficar em seu palácio a alambazar-se e emborrachar-se, até que enfim aconteceu ser deposto pelos soldados, preso em sua casa, e levantado por coronel o dito Kijf. No entretanto o inimigo, informado por alguns trânsfugas e traidores disfarçados do que ia pela cidade, ia-se aproximando dela o mais que podia.A 28 de Abril, o coronel e outros oficiais com assento no conselho foram avisados que o inimigo mandara um corneta a requerer a entrega da cidade neste mesmo dia despacharam um tambor também com a seguinte carta ou outra semelhante : "Nós o coronel e mais oficiais do conselho desta cidade de S. Salvador, havendo sabido que V. Exc. requerera um dos nossos tambores para propor negociação, mandamos o portador desta para o fim de saber quais são as intenções de V. Exc., e fiamos de V. Exc, que, segundo os usos da guerra, no-lo restituirá." Esta carta, assinada por Kijf, estava datada do dia já mencionado. Sendo presente a D. Frederico, respondeu que " não fizera intimação alguma, mas que si, conforme a pratica dos sítios, tinham os sitiados que lhe fazer algumas propostas, as ouviria cortesmente, e tomá-las-iria em consideração, quando não se opusessem ao serviço de Deus e d'El rei." Com este recado, os sitiados enviaram ao dia seguinte alguns artigos, mediante os quais fariam entrega da praça. Exigiam estes artigos que S. Exc. lhes concedesse o espaço de três semanas para concertarem os navios, que lhes restavam, e os proverem do necessário, que seria suprido por S. Exc.; que S. Exc. pusesse à sua disposição pelo menos quatro navios de trezentas toneladas, em os quais se tornassem à Republica; que pudessem sair da cidade com suas bagagens, fazendas e artilharia, os capitães e soldados com suas armas, bandeiras despregadas, mechas acesas, e bala em boca; finalmente declaravam que, aceitas estas condições, fariam entrega de D. Francisco de Sarmiento, sua mulher e filhos, e todos os prisioneiros que eram entre eles. A estas propostas respondeu D. Frederico que, tendo respeito ao estado atual dos sitiados, eram de todo em lodo desarrazoados que o exercito de S. Majestade Católica dominava no mas e em terra; que os sitiantes eram em suas próprias terras, ao passo que os sitiados estavam longe da pátria; que S. Majestade tinha ali grande poder de gente, boa parte da qual não havia ainda desembarcado, e os sitiados não tinham que esperar socorros; que já haviam sido levantados e fortificados quatro quartéis, e trinta e sete peças assestadas contra a cidade; que portanto nem cumpria aos sitiados requererem condições tão vantajosas, nem a ele lhe-as conceder; mas, pois queria mostrar a bondade de S. Majestade para com todos, lhes fazia mercê das vidas, e os havia de segurar em sua tornada a Holanda; que lhes concederia vestidos e os necessários mantimentos, uma vez que se obrigassem ao pagamento, e dessem caução; que seriam restituí-los os prisioneiros de um e outro lado, e particularmente D. Diego Furtado de Mendoza, que