História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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desta praça estavam dispostas mui diferentemente do que anteriormente lhe haviam dito, entendeu que com tão poucas forcas, como as que tinha, não podia fazer proveito em acometer a praça [^nota-19]. E' que navios nossos aqui estiveram anteriormente, como deixamos narrado, e por gracejo a gente deles ameaçara os Portuguesas, dizendo que em breve viria armada mais grossa, que lhes tomaria a cidade por isso o governador, ultimamente chegado de Portugal, fortificara bastante a praça e bem assim a praia, com paliçadas desde a cidade ate ir extremidade dos baixos, e pusera duas baterias na entrada do canal, além de uma terceira junto ao penedo; onde os navios vão ancorar. Esta tinha seis peças; a segunda chamada Santa Cruz, também tinha seis, e estava colocada junto do canal, por onde se há, de entrar; a terceira com cinco peças dominava também o canal, e estava junto da cidade, e defronte da ilha, para guardar o passo, que ha entre a ilha e o baixo. Na ilha havia ainda uma pequena bateria com duas pecas; e além disto tinha o governador começado a prover a cidade ele novas obras. Diante dela estavam surtos bem vinte e cinco navios, quatro dos quais estavam artilhados, um com oito peças, dois cons seis, e o quarto com três. Também havia na cidade muita gente, e ainda mais fora apelidada, pois, dias antes, tinham sabido que a Baía se redera aos nossos. Isto em parte visto, em parte sabido por informações, que tivera dos prisioneiros, o vice-almirante teve conselho sobre o que devia fazer, e, pois não eram cabais as forças para assaltar a cidade, assentou-se que com cinco bateis e três esquifes bem guarnecidos se fossem aos navios, que estavam surtos dentro no porto, e lhes pusessem fogo. Sendo noite, por nino serem sentidos do inimigo, os mesmos oficiais acompanharam a nossa gente; mas encontraram pouca água, do que se causou encalhar um, depois outro batel, e levaram tanto tempo em pô-los a nado, que sobreveio a luz do dia, primeiro que se chegassem aos navios contrários, e entrou o inimigo a varejá-los com sua artilharia, e assim os forçou a retrocederem. Ao outro dia o inimigo meteu pique no canal um naviozinho. Só no dia 3 de Novembro é que os nossos retiraram os navios tomados, e os levaram para a ilha, assim para se porem fora do alcance da artilharia inimiga, como para limparem um pouco os seus navios. O vice-almirante, vendo que neste lugar nada mais tinha que fazer, e sabendo que em Benguela estavam os Portuguesas muito fracos, determinou, por não perder tempo, que os dois iates Zee-Jaegher e Meerminne, e a chalupa Haes ao mando do capitão do Hollandia a, Willem Jansz. alí fossem ter.Partiu este capitão no dia 6 sobre à tarde, e muito trabalho teve primeiro que montasse a ilha, com o que gastou bem quatro vezes vinte e quatro horas. Desde o dia 12 até ao dia 17 foi um continuo labutar, ora bordejando, ora fundeado, por resguardarem os bordos. À manhã deste dia 17 estava o capitão junto de uma ponta escarpada e soberba sobre o mar, e acalmando