História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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falhasse, e em outros mais próximos, poderia ser repetida; e se, por um lado, era mais para temer-se, neste caso, a resistência do inimigo, a Companhia, por outro lado, seria também mais pronta em remeter socorros, e assim refrescaria os nossos com reforços. Os que eram deste parecer insistiam particularmente em que os nossos navios, permanecendo no Oceano Atlântico, poderiam talvez no espaço de um ano percorrer as costas da América a começar do Brasil, e o cometimento, que em um ponto fosse árduo, seria mais facilmente efetuado em outro, e em todo o caso a Companhia indenizar-se em grande parte, dos seus gastos, e com isto meteria um grande medo ao rei de Espanha, e obriga-lo-ia a fazer enormes e inevitáveis despesas pois forçoso lhe seria aumentar e reparar as suas fortificações, e reforçar consideravelmente as suas armadas. E se a Companhia não obtivesse deste modo grandes lucros, nem por isso a posição do inimigo seria menos embaraçosa, nem achar-se-ia ele menos enfraquecido.Aceito afinal este parecer, resolveu a Assembléia dos XIX que fosse acometida a Bahia de Todos os Santos, e se fizesse toda a diligencia por tomá-la. A eleição desta praça foi determinada não só porque a sua situação proporcionava fácil entrada aos navios, podendo daí saírem comodamente a acometer de improviso todas as outras partes da América e ilhas, mas também porque os nossos ter-se-iam de haver, não com Espanhóis, e sim com Portugueses, que eram menos temidos, e considerados mais fáceis de ser atraídos a nossa amizade ou forçados a aceitá-la; e ainda e principalmente por causa do açúcar e do pau-brasil, gêneros que se tinham por muitos vantajosos e apropriados no comércio destas províncias; e finalmente por outras razões, que de indústria calaremos, por não declará-las inoportunamente, e assim avisar o inimigo daquilo de que ele há de acautelar-se. Sendo esta deliberação levada pelos deputados da Assembléia dos XIX ao conhecimento de Suas Altas Potências e de Sua Alteza o Príncipe de Orange, mereceu a aprovação e assentimento deles.A Companhia já tinha quase inteiramente aparelhados, e providos do necessário, vinte e três navios grandes e três iates. A câmara de Amsterdam, pelas suas quatro nonas partes, concorrera com os seguintes navios: Holanda, do porte de trezentos lastos [nota5], guarnecido com seis peças de bronze e vinte e duas de ferro, e com cento e dezoito marinheiros, e cem soldados; Zelândia, de igual número de lastos, com doze peças de bronze e vinte e quatro de ferro, com cento e treze marinheiros e cem soldados; Província de Utrecht, duzentos e cinqüenta lastos, duas peças de bronze e dezoito de ferro, oitenta e nove marinheiros e cem soldados. Estes três navios eram próprios da Companhia. Havia mais os seguintes fretados: de Eendracht (Concórdia), duzentos e cinqüenta lastos, vinte colubrinas [nota6], quarenta marinheiros, e cinqüenta soldados; St. Christoffel (São Cristóvão), duzentos e cinqüenta